Velta Manga

Recentemente o Emir me disse que finalmente Velta Manga iria sair. Eu já havia visto uns dois desenhos feitos pelo HDR algum tempo atrás, e nada mais justo que colocar esse trabalho nas mãos do cara. Mas...
O meu grande problema é ser muito inxerido. E ter várias e várias idéias sobre tudo. E mesmo sabendo que o Emir tem grande confiança no HDR, não posso deixar de ficar aqui no meu canto imaginando como eu faria o título.
Isso, pra quem quiser ler, nada mais é do que um exercício imaginativo. Não pretendo lançar essas idéias para o Emir, até porque a história já está sendo produzida. Mas... Sabem como é... Eu tinha de escrever isso :)

Pra começar, o que mais me preocupa é o título "manga". Normalmente as pessoas associam o estilo a olhos grandes e queixos estilizados. Conheço alguns bons artistas (como o Marco Santiago) que desprezam o mangá, exatamente por essa banalização do traço. Eu, pelo contrário, adoro o mangá. Não pelos motivos habituais, o fanatismo de pessoas que criam fã-clubes e etecetera; mas sim por toda a carga cultural. O manga, por incrível que pareça, é um dos gêneros quadrinhísticos mais influenciado pelo quadrinho norte-americano. As primeiras histórias cômicas surgiram bastante calcadas nos cartuns estadunienses, e anos mais tarde a estética dos super-heróis invadiu as mentes de centenas de manga-kas (se não acreditam, vejam Dragon Ball, que nada mais é do que uma maneira mais divertida e violenta de recontar a história do super-homem). Ainda assim, o manga consegue ser único, legítimo. Eu comecei a perceber essa legitimidade uns três ou quatro anos atrás, quando descobri os mangás escaneados. Traduzidos do japonês para o inglês, muitos deles (quase todos, de fato) vinham com pequenos comentários dos tradutores, explicando hábitos e palavras japonesas. Coisas que, para a sociedade ocidental, simplesmente não possuiam tradução. Um manga original (ou seja, feito no japão mesmo) traz não somente personagens estilizados e de olhos grandes. Traz através de seus desenhos toda uma identidade japonesa: seus personagens agem de uma forma que não compreendemos bem, seus valores, seus sentimentos, são coisas que parecem bastante distantes. A própria narrativa, ágil e dinâmica, traduz a necessidade do japonês de ter entretenimento rápido e ainda assim de qualidade. As cores em que as revistas são impressas são devidamente planejadas para instigar nos leitores emoções condizentes com a história, e estas cores têm ligação direta com sua história, e com o ambiente em que vivem. É uma manifestação cultural que quadrinista nenhum, de outra parte do mundo, consegue reproduzir. E é por isso que eu adoro o manga.
Porque vejo nele o ponto que o quadrinho brasileiro pode atingir. A possibilidade de, apesar das mil influências externas e a americanização dos estilos, ainda assim criar uma identidade facilmente reconhecível, e quiça imutável. Independente de desenhos ou métodos narrativos. Algo em que você possa colocar os olhos e imediatamente dizer: isso foi feito por um brasileiro; e é muito bom. Porque ali dentro, daquela revista, daquela história, estaria a nossa cultura, os nossos costumes, os nossos anseios.

O que isso tem a ver com Velta Manga?


Tudo! Velta é um dos maiores exemplos para o quadrinho nacional. Alguns a adoram, outros a odeiam, mas ninguém consegue ficar imparcial. Boas ou ruins, suas histórias a trinta anos tem um brasileirismo contagiante, um respeito pelas pessoas daqui, e uma absorção inteligente das influências estrangeiras.
Criar uma versão "mangalizada" de Velta seria pegar emprestados o desenho e a narrativa japoneses, e dar, para a nossa cultura, a mesma importância que eles dão para a deles.
Traduzindo, Velta seria mais que uma loura gigante e com olhos exagerados. Mais do que isso, seria uma brasileira. As histórias, rápidas o suficiente para se ler no ponto de ônibus (como de fato os japoneses lêem os mangas, à espera no metrô) combinariam detalhes de sua vida íntima com combates contra bandidos e monstros.
Eu focaria muito mais na vida de Kátia, do que de Velta. Desenvolveria a relação dela com o pai, e com as irmãs (que, aliás, apareciam a todo momento). A mostraria indo à escola, se relacionando com amigos muito próximos, e talvez até lhe arrumasse um namorado (não me esquecendo de Gilberto, claro, que surgiria depois).

A minha "visão" de Velta, propriamente dita, virá no próximo post, que é o de número 1000. :)

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