1 - Pra começar, um detalhe bastante simples, mas que muitos esquecem. Dinheiro, por essas bandas, só é verde se for nota de um real. Portanto, ao fazer transações entre policiais corruptos e traficantes, por exemplo, faça o favor de pintar o dinheiro de azul ou, no mínimo, amarelo. Esse lance de fazer tudo em dólar é clichê demais.
2 - Se você conhece bastante sobre quadrinhos, deve saber que o uniforme do Super-Homem foi criado em homenagem aos lutadores de circo (se não sabia, matei a sua curiosidade). A estrutura dos quadrinhos que conhecemos hoje vem de uma série de outras influências, como os "pulps" e as "óperas espaciais". Portanto, é compreensível que os heróis gringos tenham super-poderes que só a ciência explica (de uma forma nem sempre convincente), uniformes colantes e coloridos, e combatam o crime somente pelo orgulho em se fazer justiça. No Brasil, podemos lembrar de influências similares. Ao invés dos lutadores de circo, temos o telecatch. Ao invés das óperas espaciais, temos os quadrinhos de terror e o "terrir". E ao invés dos "pulps", temos as fotonovelas e os catecismos. Portanto, antes de criar um personagem super-musculoso com a cueca por cima das calças e que solta raios dos olhos, eu sugeriria uma roupa chamativa e mal acomodada no corpo, com as costuras aparecendo; quem sabe mordido por um vampiro ou possuído por um demônio.
3 - Muitos acreditam que os heróis nacionais, em sua totalidade, são cópias deslavadas dos gringos. Estes, não sabem do que falam. Muito antes de Jessica Jones, da série Alias (do selo Marvel MAX) insistir em dizer que não é uma super-heroína e sair por aí querendo fazer dinheiro como detetive particular, Emir Ribeiro já eliminava os uniformes de sua personagem Velta e cobrava altíssimos preços por seus serviços. Os gringos nos copiaram? É claro que não. Mas este pequeno exemplo mostra que, a maior notoriedade de um, acaba ofuscando a maior criatividade de outro. Casos como esse não são isolados. Vampirella surgiu poucos anos após seu criador ter conhecido Eugenio Colonesse, que já trabalhava com a vampira Mirza. O mesmo Colonesse contava ótimas histórias do Morto do Pântano antes que o Monstro do Pântano desse as caras nas revistas. Gedeone Malagola criou seu personagem Raio Negro calcado no Lanterna Verde, mas criou um conceito de patrulha estelar com muita antecedência aos autores do "copiado". Em 1958 surgia no Brasil o Vigilante Fantasma, um motoqueiro que combatia criminosos tendo como arma uma corrente. Já em 1968, quem dava as caras era o Patrulheiro Fantasma, o espírito de um patrulheiro rodoviário que fazia justiça pelas estradas brasileiras em sua moto sobrenatural. somente em meados de 1973 os gringos iriam surgir com o seu Motoqueiro Fantasma.
Por isso, antes de buscar referências em Spawn, Homem-Aranha e X-Men, lembre que em várias ocasiões, "nossos quadrinistas são mais criativos que os outros".
4 - Na década de 60, Stan Lee criou os X-Men como uma forma sutil de falar sobre racismo. Até hoje a rivalidade entre Magneto e Xavier é comparada às diferenças de discurso de Martin Luther King e Malcon X. No Brasil, temos Zumbi, Chico Rei, além da velha frase que diz que aqui as pessoas fingem que não existe preconceito.
5 - Mais além, temos um período negro de nossa história que não equivale a nada na história americana. Chama-se ditadura. "Subversivos", de André Diniz, para mim é tudo o que uma história de "X-Men" seria se fosse criada no Brasil.
6 - "Quadrinho nacional tem peito e bunda demais". E daí? Não é nada diferente do que vemos em nossas televisões todos os dias, nos Big Brothers da vida. Existe uma grande diferença, porém, entre a pura exploração da sexualidade para balancear a falta de conteúdo de uma história em quadrinhos; e uma história bem escrita e empolgante, que utiliza o sexo como recurso secundário para ilustrar realismo e coerência (afinal, não vá me dizer que Super-Homem e Homem-Aranha, heróis casados a anos, não trepam).
7 - Em um país onde o mercado quadrinístico é quase inexistente, fazer sagas intermináveis chega a ser estupidez. No máximo, fará com que o leitor pegue o bonde andando em uma revista que provavelmente não terá continuação, e que fará com que o personagem seja rapidamente esquecido. Se você criou um cenário bem detalhado, personagens ricos em suas descrições, com tramas complexas e bem elaboradas, pelo menos certifique-se de que cada história tenha início meio e fim. Isso garantirá que o leitor se divirta com a revista nas mãos, mesmo que desconheça o universo do personagem. A edição "30 anos de Velta", de Emir Ribeiro, é um bom exemplo disso. É a continuação de uma saga criada por Emir anos antes, e a primeira história da revista já é, por si só, a segunda parte de uma aventura publicada cinco anos antes. No entanto, ele nos presenteia com "flashbacks" e diálogos, além de textos explicativos entre as histórias curtas, que colocam mesmo aqueles que nunca ouviram falar de Velta; completamente sintonizados com as criações do autor.
8 - Lá fora, histórias em quadrinhos são automaticamente ligadas a super-heróis. Aqui, quadrinhos de super-heróis fabricados em território nacional, dificilmente são levados a sério. Reflita estas posturas através de suas histórias. Ao invés de escrever sobre heróis pomposos adorados pelo público, por exemplo, escreva sobre um mundo onde os super-heróis não existem, ou se existem, ninguém sabe de (ou acredita em) sua existência. Neste caso, de quê serviriam identidades secretas, uniformes e máscaras?
9 - Aliás, para que escrever sobre super-heróis? Este é apenas um gênero dos quadrinhos, e não sua grande identidade. Nada impede que você escreva sobre homens voadores e alienígenas justiceiros, e ainda assim mantenha uma identidade brasileira em suas histórias. Mas nada impede também que você ultrapasse essas definições e escreva sobre policiais, cangaceiros, revolucionários, estudantes, etecetera.
10 - Na hora da escolha dos nomes, Paulo, Pedro e Bruno são melhores que Michael, Bruce e Jack. Ao invés de Nova York, ambiente sua história em São Paulo (que você pode visitar após uma viagem de ônibus ou simplesmente buscar referências de prédios e cenários pela internet) ou em sua própria cidade natal. O que faz de Los Angeles tão melhor que São Francisco do Sul para que um ser super-poderosos surja em uma e não na outra?
11 - Origens bem detalhadas são apreciadas pelos leitores. Dizer que "o personagem é assim, porque nasceu assim" demonstra uma grande falta de criatividade e preguiça em se pensar em coisa melhor, numa época em que os quadrinistas se acostumaram demais a dizer que todos são "mutantes". Ser picado por uma barata trangênica também não é um exemplo de grande originalidade. Lembre que os leitores são menos ingênuos hoje que a quarenta anos atrás, e pequenos acidentes não convencem mais para explicar grandes poderes. Por exemplo, um personagem como o Hulk, se criado no Brasil, poderia ser um funcionário ocioso de uma usina nuclear que, afetado por um vazamento de radiatividade, tornaria-se um monstro cancerígeno ambulante, cuja explicação da grande força (não tão grande quanto a do Hulk gringo) seria o descontrole emocional intenso, e da resistência sobre-humana seria a diminuição da sensibilidade à dor, causada pelo acidente.
12 - Por fim, lembre-se que a HQ nacional tem uma longa estrada e muita coisa boa foi escrita e desenhada através dos anos. Watchmen e Cavaleiro das Trevas são ótimas referências, sem dúvida; mas mestres como Lourenço Mutarelli, Flavio Collin e mesmo "iniciantes" como Gabriel Bá e Fábio Moon certamente são escolhas melhores no quesito "brasilidade".

Mindfuckeando...

Entro no #trails, depois de séculos sem sequer abrir o IRC, e logo de cara me deparo com um fulaninho fazendo perguntas estranhas ao JC sobre totens de golfinho e etecetera. De repente, JC cai, fico na dúvida se caiu de verdade ou fugiu do mané. Quando o mesmo mané resolve vir conversar comigo, a resposta se torna óbvia...

Malditos_VeNuSiAnOs> PrEsUnToW
Malditos_VeNuSiAnOs> ae cara
Malditos_VeNuSiAnOs> vc joga RPG?
PrEsUnToW> Rpag?
PrEsUnToW> q q eh isso?
Malditos_VeNuSiAnOs> dexa pra la
PrEsUnToW> Rapazes procuram garotas?
PrEsUnToW> Se for, jogo sim :P
Malditos_VeNuSiAnOs> vlws mesmo assim
Malditos_VeNuSiAnOs> aUHAuhaUHAuh
Malditos_VeNuSiAnOs> Role Playing Game
Malditos_VeNuSiAnOs> ^^
PrEsUnToW> reeducação postural global?
PrEsUnToW> anh...
PX> rola para gays
PrEsUnToW> tipo videogame?
Malditos_VeNuSiAnOs> eh, soh q sme vidiogame
Malditos_VeNuSiAnOs> ^^
Malditos_VeNuSiAnOs> *sem
PrEsUnToW> final fantasy e etc
PrEsUnToW> acho maneiro
PrEsUnToW> como SEM videogame?
PrEsUnToW> no pc?
PX> lol
Malditos_VeNuSiAnOs> naum
Malditos_VeNuSiAnOs> papel
Malditos_VeNuSiAnOs> e dados
PrEsUnToW> ????
Malditos_VeNuSiAnOs> mais ou menos assim
Malditos_VeNuSiAnOs> o mestre do jogo
PrEsUnToW> isso ae tá me parecendo mais é banco imobiliário, mano
Malditos_VeNuSiAnOs> haha
Malditos_VeNuSiAnOs> sem comparações
Malditos_VeNuSiAnOs> tipow asism
PrEsUnToW> hmm
Malditos_VeNuSiAnOs> eh tipow um narrador
Malditos_VeNuSiAnOs> q conta a histproia
Malditos_VeNuSiAnOs> os jogaodres
Malditos_VeNuSiAnOs> representam personagens
Malditos_VeNuSiAnOs> na historia
Malditos_VeNuSiAnOs> exemplo
Malditos_VeNuSiAnOs> aventura policial
Malditos_VeNuSiAnOs> eu sou o mestre
Malditos_VeNuSiAnOs> vc um jogador policia
Malditos_VeNuSiAnOs> vc um jogador policial
Malditos_VeNuSiAnOs> eu digo q un ladrão vaio na sua direção
PrEsUnToW> ah... não é aquela seita dos caras que mataram a minina lá?
Malditos_VeNuSiAnOs> vc fala oq ker fazer
Malditos_VeNuSiAnOs> atirar onde
Malditos_VeNuSiAnOs> ou correr
Malditos_VeNuSiAnOs> aUHUHAUHAuhaUHAuha
Malditos_VeNuSiAnOs> cara, akilo era um monte de psicopata q usaram o nome do rpg pra matar
PrEsUnToW> o tal jogo que faz as pessoas adorarem o diabo?
PrEsUnToW> to fora disso, meu
Malditos_VeNuSiAnOs> nen
PrEsUnToW> deus é pai
Malditos_VeNuSiAnOs> nun eh isso nom
Malditos_VeNuSiAnOs> claor q eh
Malditos_VeNuSiAnOs> sou católico mano
Malditos_VeNuSiAnOs> soh idiota, cai nessas
Malditos_VeNuSiAnOs> rpg nesse ponto
Malditos_VeNuSiAnOs> eh como filmes saka?
Malditos_VeNuSiAnOs> soh os com tendencias psicopatas saem matando
Malditos_VeNuSiAnOs> o msm psicopata q mata por rpg, mata por filmes
PrEsUnToW> o pastor lá da minha area falou pra não se meter com esses tecos não, que é coisa do demo
Malditos_VeNuSiAnOs> mas de todo caso vlw's pela compreenção
Malditos_VeNuSiAnOs> PrEsUnToW
Malditos_VeNuSiAnOs> issu eh parte ignorância d ekem nun conhece o assunto
Malditos_VeNuSiAnOs> RPG tem suas msgs subliminar como todo e qqer programa de TV digamos asism
Malditos_VeNuSiAnOs> eh un jogo qqer como todo outro
Malditos_VeNuSiAnOs> tem os do "mal" ou cosia assim
PrEsUnToW> tu tá chamando o pastor de mentiroso? Pos! Semana passada vi ele tirar umas coisas ruins da cunhada do meu pai... coisa louca
Malditos_VeNuSiAnOs> mas tme os normais
Malditos_VeNuSiAnOs> PrEsUnToW
Malditos_VeNuSiAnOs> nun to chamando ele de mentiroso, to dizendo q ele nun tah familiarizado com o assunto
Malditos_VeNuSiAnOs> rapaz, sou crismado
Malditos_VeNuSiAnOs> rezo todas as noites
Malditos_VeNuSiAnOs> nen mentir sou capaz
Malditos_VeNuSiAnOs> nun péco
Malditos_VeNuSiAnOs> as evzes erro
Malditos_VeNuSiAnOs> como todo ser humano q se preze
Malditos_VeNuSiAnOs> mas jogo rpg
Malditos_VeNuSiAnOs> riu mt
PrEsUnToW> mas fica jogando essas coisas estranhas... tu vai pro inferno, rapaz!
Malditos_VeNuSiAnOs> ^^
Malditos_VeNuSiAnOs> nen cara
Malditos_VeNuSiAnOs> eh dificil explikar pela net
Malditos_VeNuSiAnOs> então eskece
PrEsUnToW> não adianta ficar rezando todo dia se não fizer as cousa direitinho, como deus manda
PrEsUnToW> e deus não gosta que jogue essas coisas aí do demônio
Malditos_VeNuSiAnOs> nun eh coisa do demônio rapax
Malditos_VeNuSiAnOs> existem milhares de jogos diferentes
PrEsUnToW> o pastor falo q é
Malditos_VeNuSiAnOs> como q no jogo
Malditos_VeNuSiAnOs> vc eh um policial
Malditos_VeNuSiAnOs> e vc temq proteger a cidade
PrEsUnToW> mas se não tem videogame, não tem nada, só papel, como q tu se transforma nas coisas? Isso é coisa de magia negra. Valha-me deus
Malditos_VeNuSiAnOs> meu
Malditos_VeNuSiAnOs> eh imaginação
Malditos_VeNuSiAnOs> msm q ler un livro
PrEsUnToW> coisa de gente dograda, q fica tendo alusião
Malditos_VeNuSiAnOs> eu imagino q sou um policial
Malditos_VeNuSiAnOs> q maneh ilusão rapax
Malditos_VeNuSiAnOs> vc axa q ler livros eh coisa de drogado e do demônio
Malditos_VeNuSiAnOs> azar o seu
PrEsUnToW> pah... saca só mano... eu podia ficar aqui tentando entender esses treco demoníaco q tu tah falando, mas tô atrasado pra igreja
Malditos_VeNuSiAnOs> vai nessa
PrEsUnToW> depois nós se fala ae pelas quebrada
Malditos_VeNuSiAnOs> igreja salva tb
Malditos_VeNuSiAnOs> x}~
Malditos_VeNuSiAnOs> alias
PrEsUnToW> [PX] quem é o newba? :P
Malditos_VeNuSiAnOs> nun eh a igreja q salva, eh a fé e os ensinamenos de Deus
Malditos_VeNuSiAnOs> e nun eh coisa do demônio
Malditos_VeNuSiAnOs> mas vejo cmo kiser
Malditos_VeNuSiAnOs> lovre arbítrio
Malditos_VeNuSiAnOs> ^^
Malditos_VeNuSiAnOs> ops
Malditos_VeNuSiAnOs> *livre arbítrio
PX> PrEsUnToW:
PX> nem imagino
PX> mas eu to rindo horrores
PX> pois eu falei a mesma coisa sobre o pastor
PX> antes
Malditos_VeNuSiAnOs> eu notei XP
Malditos_VeNuSiAnOs> PX
Malditos_VeNuSiAnOs> eh uma opção sua
Malditos_VeNuSiAnOs> mas acho ignorância, pq eh un jogo como todo e qualquer
PrEsUnToW> alguém salva o log aí pra eu rir depois, q agora tô indo pagar umas contas pra patroa, e sei lá o q pode acontecer com esse pc maluco nesse meio tempo :P
[20:04] * PrEsUnToW está away razão: RPG é coisa do demo, ae! UAHuahUAHuahUHA

Pouco tempo depois, PX me manda o log do canal até o momento em que eu entrei, por e-mail. Vê se a vida não é mesmo uma eterna repetição? :)

Números

Cinco histórias, cinco desenhistas, um roteirista empolgado.
Cento e trinta páginas, quatro reportagens, duas biografias.
Dois filhos, um antigo inimigo, um novo vilão motivado.
Quatro heróis.

aguardem...

Leituras...

Ando um tanto quanto obcecado pelo selo Marvel MAX, talvez pelo fato de ir em busca de influências recentes para o trabalho que estamos querendo fazer na cooperativa. Já havia lido Alias, boa parte da série, e agora estou em busca de Cage, de tanto ouvir os elogios do Erick. Os próximos da lista, no entanto, serão Rawhide Kid, na tal versão que dizem que o personagem "sai do armário"; e The Hood. Por enquanto estou no segundo número de The Eternal, que pode ser re-entitulado de "os bastidores da criação da humanidade". Durante anos a Marvel insistiu num ponto específico sobre a criação do homo sapiens, em que os deuses alienígenas chamados Celestiais haviam vindo à Terra, avaliado o potencial dos seres que aqui viviam, e então feito-os pular um passo na escala evolutiva. Na mini-série Terra X (antes ainda de Universo X e Paraíso X, duas viagens completamente desnecessárias) foram ainda mais longe, transformando o planeta num hospedeiro para um Celestial em formação, e os humanos (assim como mutantes e demais super-heróis) em anticorpos que protegeriam esse "Deus bebê". Em The Eternal, essa surrealidade continua. Na série, o escritor Chuck Austen e o desenhista Kev Warren contam a história dos Eternos (conhecidos entre os leitores da Marvel principalmente por causa da personagem Sersi, integrante dos Vingadores), uma raça imortal que, escravizada pelos Celestiais, tem a missão de extrair os recursos naturais de diversos planetas galáxia afora, evoluindo seus nativos para transformar os mesmos em mão de obra obediente. Ao chegarem na Terra, Ikaeden e Kurassus, os dois mais altos em comando, surpreendem-se ao evoluir uma fêmea nativa, e perceber o quanto ela se parecia com as mulheres de seu povo (exterminadas pelos Celestiais para que não se procriassem). Kurassus, um personagem frio, cruel, mesquinho, e com desejos sexuais bastante esdrúxulos; é o primeiro a tomar uma das fêmeas para si, mas logo todos os Eternos entregam-se ao prazer e à luxúria junto de suas companheiras primitivas. Isso faz com que seus comandantes fiquem cada vez mais preocupados com a possível ira dos Celestiais, à medida que vão surgindo mais e mais humanas (chamadas por eles de deviantes) grávidas. A lei é bastante clara, e uma gravidez é imediatamente extirpada (aparentemente, junto com a genitora), e os problemas começam a se tornar realmente claros quando Ikaeden permite que sua companheira viva, após ela ter quebrado a lei dos Eternos e administrado nela própria um processo que lhe permitiria pensar e falar como os Eternos, assim como confessar seu amor por Ikaeden, e finalmente se entregar a ele. Os artifícios são os habituais da série MAX: sexo, nudez, violência, muitas tripas. Austen, no entanto, consegue limitar o uso destes recursos e contar uma história com vários elementos bíblicos, que trata, até onde eu posso supor, dos últimos momentos de queda de um povo antigo. A arte de Warren é belíssima, muito bem finalizada pelo nanquim de Simon Coleby e as cores de Dan Brown. As cenas de nudez são até bastante comportadas, sem parecerem desnecessárias, e as cenas de sexo realmente convencem. A violência está lá, logo nas primeiras páginas, mas aos poucos vai sendo aliviada, dando maior espaço à interação entre os personagens e o esclarecimento da origem dos Eternos. Troféu jóinha pras referências ao antigo egito e interpretação das constelações pelos "deviantes".

Fury

Mais uma do Ennis. Esse é um cara que tem muitos defensores, e eu não compreendo bem o porquê. O protagonista é quase sempre um psicopata sarcástico e todos à sua volta completos perdedores, e há sempre pelo menos um antagonista gigantesco e deformado. Entre Fury e a fase do Justiceiro escrita por Ennis, eu não percebi muita diferença. As duas abusam do sangue e matança como artifícios para esconder a fraca narrativa, e as duas utilizam-se de estereótipos cansativos para falarem de guerra (sinceramente, me parece que Ennis tem uma certa obsessão por repúblicas tropicais e ditatoriais de terceiro mundo). O "velho sádico" (numa óbvia alusão ao "velho safado" Charles Bukowski) mostra-se cada vez mais, aos meus olhos, um escritor pouco criativo e que insiste em bater sempre na mesma tecla, e exemplo do péssimo Thor: Vikings que mais parece um remake não-censurado de Mortal Kombat do que realmente uma história em quadrinhos. Qual a diferença entre quadrinho adulto e ingênuo, alguém perguntou uma vez sobre as novas linhas de publicação da Marvel. Eu vou mais além e pergunto: qual o motivo de inserir elementos "adultos" como sexo, violência, palavreado forte, e etecera; numa história tão infame que somente crianças se interessariam por lê-la? E os traços de Darrick Robertson também não ajudam a acrescentar nada de novo ao título, ou qualquer coisa que se tenha visto nas bancas nos últimos tempos.

U.S. War Machine



Voltando a falar de Chuck Austen, entãoo, um autor bastante controverso mas que está aos poucos entrando na minha preferência. Após uma busca rápida no site Omelete, atrás de outras notícias sobre o cara, só encontrei duas menções à série U.S. War Machine, uma de Fabricio Grellet, anunciando o lançamento do título em 2001, e outra de Rodrigo Monteiro, anunciando a sua continuação, War Machine 2.0. Em ambos os casos, a impressão que passa é que os autores das resenhas sequer leram quaisquer das revistas, não se importaram em buscar quem leu, e insistiram em falar mal do mesmo jeito. Não que qualquer uma das duas séries seja uma obra prima digna de prêmios internacionais, mas os comentários dos "cozinheiros" foram ácidos demais em textos que deixaram óbvia a ignorância dos dois quanto às séries. War Machine é focada em Jim Rodhes, antigo guarda-costas de Tony Stark (o Homem de Ferro). Correndo fora da cronologia oficial do universo marvel, a história começa com Tony Stark rompendo todos os seus contratos com o governo, e informando à imprensa que nunca mais desenvolverá armas para ninguém (devido à violência causada num incidente na Latveria, terra do Doutor Destino), e manterá sua tecnologia para uso pessoal e exclusivo. Logo em seguida, a mesma armadura que ele havia prometido que jamais seria vista (a chamada Máquina de Guerra) se envolve num incidente terrorista transmitido ao vivo em rede nacional, que culmina com a morte de sete pessoas (quatro inocentes, dois terroristas e uma refém). Rhodey, que vestia a armadura, é demitido mas arruma logo um novo emprego: como chefe do departamento de Operações Especiais da organização de espionagem S.H.I.E.L.D., que está produzindo uma nova versão da armadura, com tecnologia roubada de Tony Stark. A série é obviamente caucada no mangá, tanto nos traços limpos e simples em preto e branco, atolados de retículas e cenas detalhadas com vários elementos complexos (como a múltipla colisão de carros mostrada na primeira edição); quanto no dinamismo da narrativa, açãoo rápida e até na temática. Infelizmente, no decorrer da série, Austen vai aos poucos substituindo este estilo "mangalóide" por uma arte 3D apressada, que piora a cada edição, até chegar ao abuso da sua continuação, a mini-série War Machine 2.0, totalmente ilustrada por imagens tridimensionais de Christian Moore.
Austen cria algumas confusões ao longo de sua narrativa, e quase gagueija em sua insistência de falar (e mal, o que lhe rendeu alguns puxões de orelha na mídia especializada) sobre racismo e preconceito. Cria-se uma espécie de "rivalidade saudável" entre Rhodes, um negro tentando se ajustar, e Parnell, um idealista pentelho que acusa o amigo de "trair a própria raça" o tempo todo. Tirando-se estes detalhes, é possível rir bastante e aproveitar os conceitos criados, como Darkhawk, um ciborgue preso numa fantasia virtual que é uma cópia deslavada de um Eva (de Evangellion, pra quem não conhece) e é protagonistas de algumas das piadas mais bem sacadas.
Agora, quanto a U.S. War Machine 2.0, eu não recomendo de maneira alguma. Não só pela nauseante arte 3D, mas pela inutilidade da história. Tony stark vê a unidade especial da S.H.I.E.L.D. estampada nos jornais e decide tomar sua tecnologia de volta, à força. Em meio a tudo isso, os War Machines e o Capitão América (na verdade Bucky, sob a máscara) deixam escapar pelos dedos terroristas de posse de bombas nucleares. Tony surge no pior momento, quando os "heróis" estão saindo para impedir um holocausto, e da segunda para a terceira edição, sem explicação alguma, os dois grupos se aliam. Um desperdício de páginas que termina numa lição de moral e um sentimentalismo bestas.




 

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