Leituras...

Ando um tanto quanto obcecado pelo selo Marvel MAX, talvez pelo fato de ir em busca de influências recentes para o trabalho que estamos querendo fazer na cooperativa. Já havia lido Alias, boa parte da série, e agora estou em busca de Cage, de tanto ouvir os elogios do Erick. Os próximos da lista, no entanto, serão Rawhide Kid, na tal versão que dizem que o personagem "sai do armário"; e The Hood. Por enquanto estou no segundo número de The Eternal, que pode ser re-entitulado de "os bastidores da criação da humanidade". Durante anos a Marvel insistiu num ponto específico sobre a criação do homo sapiens, em que os deuses alienígenas chamados Celestiais haviam vindo à Terra, avaliado o potencial dos seres que aqui viviam, e então feito-os pular um passo na escala evolutiva. Na mini-série Terra X (antes ainda de Universo X e Paraíso X, duas viagens completamente desnecessárias) foram ainda mais longe, transformando o planeta num hospedeiro para um Celestial em formação, e os humanos (assim como mutantes e demais super-heróis) em anticorpos que protegeriam esse "Deus bebê". Em The Eternal, essa surrealidade continua. Na série, o escritor Chuck Austen e o desenhista Kev Warren contam a história dos Eternos (conhecidos entre os leitores da Marvel principalmente por causa da personagem Sersi, integrante dos Vingadores), uma raça imortal que, escravizada pelos Celestiais, tem a missão de extrair os recursos naturais de diversos planetas galáxia afora, evoluindo seus nativos para transformar os mesmos em mão de obra obediente. Ao chegarem na Terra, Ikaeden e Kurassus, os dois mais altos em comando, surpreendem-se ao evoluir uma fêmea nativa, e perceber o quanto ela se parecia com as mulheres de seu povo (exterminadas pelos Celestiais para que não se procriassem). Kurassus, um personagem frio, cruel, mesquinho, e com desejos sexuais bastante esdrúxulos; é o primeiro a tomar uma das fêmeas para si, mas logo todos os Eternos entregam-se ao prazer e à luxúria junto de suas companheiras primitivas. Isso faz com que seus comandantes fiquem cada vez mais preocupados com a possível ira dos Celestiais, à medida que vão surgindo mais e mais humanas (chamadas por eles de deviantes) grávidas. A lei é bastante clara, e uma gravidez é imediatamente extirpada (aparentemente, junto com a genitora), e os problemas começam a se tornar realmente claros quando Ikaeden permite que sua companheira viva, após ela ter quebrado a lei dos Eternos e administrado nela própria um processo que lhe permitiria pensar e falar como os Eternos, assim como confessar seu amor por Ikaeden, e finalmente se entregar a ele. Os artifícios são os habituais da série MAX: sexo, nudez, violência, muitas tripas. Austen, no entanto, consegue limitar o uso destes recursos e contar uma história com vários elementos bíblicos, que trata, até onde eu posso supor, dos últimos momentos de queda de um povo antigo. A arte de Warren é belíssima, muito bem finalizada pelo nanquim de Simon Coleby e as cores de Dan Brown. As cenas de nudez são até bastante comportadas, sem parecerem desnecessárias, e as cenas de sexo realmente convencem. A violência está lá, logo nas primeiras páginas, mas aos poucos vai sendo aliviada, dando maior espaço à interação entre os personagens e o esclarecimento da origem dos Eternos. Troféu jóinha pras referências ao antigo egito e interpretação das constelações pelos "deviantes".

Fury

Mais uma do Ennis. Esse é um cara que tem muitos defensores, e eu não compreendo bem o porquê. O protagonista é quase sempre um psicopata sarcástico e todos à sua volta completos perdedores, e há sempre pelo menos um antagonista gigantesco e deformado. Entre Fury e a fase do Justiceiro escrita por Ennis, eu não percebi muita diferença. As duas abusam do sangue e matança como artifícios para esconder a fraca narrativa, e as duas utilizam-se de estereótipos cansativos para falarem de guerra (sinceramente, me parece que Ennis tem uma certa obsessão por repúblicas tropicais e ditatoriais de terceiro mundo). O "velho sádico" (numa óbvia alusão ao "velho safado" Charles Bukowski) mostra-se cada vez mais, aos meus olhos, um escritor pouco criativo e que insiste em bater sempre na mesma tecla, e exemplo do péssimo Thor: Vikings que mais parece um remake não-censurado de Mortal Kombat do que realmente uma história em quadrinhos. Qual a diferença entre quadrinho adulto e ingênuo, alguém perguntou uma vez sobre as novas linhas de publicação da Marvel. Eu vou mais além e pergunto: qual o motivo de inserir elementos "adultos" como sexo, violência, palavreado forte, e etecera; numa história tão infame que somente crianças se interessariam por lê-la? E os traços de Darrick Robertson também não ajudam a acrescentar nada de novo ao título, ou qualquer coisa que se tenha visto nas bancas nos últimos tempos.

U.S. War Machine



Voltando a falar de Chuck Austen, entãoo, um autor bastante controverso mas que está aos poucos entrando na minha preferência. Após uma busca rápida no site Omelete, atrás de outras notícias sobre o cara, só encontrei duas menções à série U.S. War Machine, uma de Fabricio Grellet, anunciando o lançamento do título em 2001, e outra de Rodrigo Monteiro, anunciando a sua continuação, War Machine 2.0. Em ambos os casos, a impressão que passa é que os autores das resenhas sequer leram quaisquer das revistas, não se importaram em buscar quem leu, e insistiram em falar mal do mesmo jeito. Não que qualquer uma das duas séries seja uma obra prima digna de prêmios internacionais, mas os comentários dos "cozinheiros" foram ácidos demais em textos que deixaram óbvia a ignorância dos dois quanto às séries. War Machine é focada em Jim Rodhes, antigo guarda-costas de Tony Stark (o Homem de Ferro). Correndo fora da cronologia oficial do universo marvel, a história começa com Tony Stark rompendo todos os seus contratos com o governo, e informando à imprensa que nunca mais desenvolverá armas para ninguém (devido à violência causada num incidente na Latveria, terra do Doutor Destino), e manterá sua tecnologia para uso pessoal e exclusivo. Logo em seguida, a mesma armadura que ele havia prometido que jamais seria vista (a chamada Máquina de Guerra) se envolve num incidente terrorista transmitido ao vivo em rede nacional, que culmina com a morte de sete pessoas (quatro inocentes, dois terroristas e uma refém). Rhodey, que vestia a armadura, é demitido mas arruma logo um novo emprego: como chefe do departamento de Operações Especiais da organização de espionagem S.H.I.E.L.D., que está produzindo uma nova versão da armadura, com tecnologia roubada de Tony Stark. A série é obviamente caucada no mangá, tanto nos traços limpos e simples em preto e branco, atolados de retículas e cenas detalhadas com vários elementos complexos (como a múltipla colisão de carros mostrada na primeira edição); quanto no dinamismo da narrativa, açãoo rápida e até na temática. Infelizmente, no decorrer da série, Austen vai aos poucos substituindo este estilo "mangalóide" por uma arte 3D apressada, que piora a cada edição, até chegar ao abuso da sua continuação, a mini-série War Machine 2.0, totalmente ilustrada por imagens tridimensionais de Christian Moore.
Austen cria algumas confusões ao longo de sua narrativa, e quase gagueija em sua insistência de falar (e mal, o que lhe rendeu alguns puxões de orelha na mídia especializada) sobre racismo e preconceito. Cria-se uma espécie de "rivalidade saudável" entre Rhodes, um negro tentando se ajustar, e Parnell, um idealista pentelho que acusa o amigo de "trair a própria raça" o tempo todo. Tirando-se estes detalhes, é possível rir bastante e aproveitar os conceitos criados, como Darkhawk, um ciborgue preso numa fantasia virtual que é uma cópia deslavada de um Eva (de Evangellion, pra quem não conhece) e é protagonistas de algumas das piadas mais bem sacadas.
Agora, quanto a U.S. War Machine 2.0, eu não recomendo de maneira alguma. Não só pela nauseante arte 3D, mas pela inutilidade da história. Tony stark vê a unidade especial da S.H.I.E.L.D. estampada nos jornais e decide tomar sua tecnologia de volta, à força. Em meio a tudo isso, os War Machines e o Capitão América (na verdade Bucky, sob a máscara) deixam escapar pelos dedos terroristas de posse de bombas nucleares. Tony surge no pior momento, quando os "heróis" estão saindo para impedir um holocausto, e da segunda para a terceira edição, sem explicação alguma, os dois grupos se aliam. Um desperdício de páginas que termina numa lição de moral e um sentimentalismo bestas.



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