Há uma coisa interessante entre os maníacos por comicscans que não se encontra em nenhum outro "ramo" da pirataria online. É a cooperação. Quantas vezes eu já não baixei filmes com nomes trocados, ou demorei séculos para baixar determinada música rara porque fulano não queria atrasos na sua conexão? Impossível ter uma noção exata.
Este tipo de coisa quase não acontece quando se baixa comics. Claro que há excessões, existem verdadeiros filhos da puta. Mas mesmo entre o povo "Scarlet Ohara" que diz o tempo todo "jamais gastarei dinheiro com gibis novamente" você encontra uma cooperação quase surreal. O que importa é sempre conseguir títulos novos, raros, desde os clássicos impossíveis de se comprar até os últimos lançamentos. Não saiu aqui? Tá na rede! E a única solução pra isso é difundir ao máximo os programas, os links, liberar sua conexão e dividir com todo mundo o que você tem. Pois sabe que vai ter o retorno.
Foi desse jeito que eu completei, essa noite, a minha coleção de Books of Magic. Povinho do trails que deve ficar feliz com isso. A uns dois anos atrás, ou menos, eu joguei umas vinte e tantas edições no server do Lalo, mais umas seis edições de Hunter: Ages of Magic num blogue que eu tinha (muito antes do Rapadura, muito antes da ideologia furada). Agora, quem quiser ler o resto (incluindo as outras de Hunter)... Tô à disposição. :)
Mais putarias (e dessa vez as tarjas que se fodam - também)
Voltando a falar de scans... Outro dia pintou a notícia de um moleque vendendo scans em CD. "Pra ajudar no conserto do carro", foi a desculpa dele. Filhadaputice mesmo, vamos ser sinceros, pelo amor de Deus. Pelo menos alguém está ganhando dinheiro com essa história toda. A parte engraçada de verdade foi ver o povo do Rapadura dedurando: "Tá... ele pode mas a gente não? Pega ele também!".
E quando eu pensando que o mundo dos scans não tinha mais jeito...
Encontrei um gaúcho no #comicshop que baixa scans a tanto tempo quanto eu, nunca tinha ouvido falar do Rapadura, não fazia a menor idéia de quem diabos era o Oggh, e ainda me confundiu com um dos colunistas do Omelete.
Coisas assim fazem a gente rir bastante e desistir de abandonar a vida de pirata.
Aliás... Oggh, quando é que você vem pra floripa praquele choppinho?
Desta vez eu estava do lado errado da ponte. Quando vi que a luz não pretendia de forma alguma voltar tão cedo, liguei para a Célia e pedi que ela - também - não viesse. Não queria que ela enfrentasse as ruas escuras do centro florianopolitano - que, vocês sabem bem, já não é o mesmo desde que aquela ponte foi construída - por um capricho de querer me ver (capricho meu, na verdade, que sentia como se não a visse a semanas, tamanha a saudade). Aproveitei para exercitar o meu lado "central telefônica", acalmando as mães de amigos do meu irmão que ligavam incessantemente para cá, em variados estados de nervosismo, procurando informações sobre os rebentos perdidos. no fim das contas, a pivetada toda estava no continente, na casa de uma outra menina, e sequer sabiam do que acontecia neste lado do jurerê-mirim.
Tive de pensar rápido, organizar na minha cabeça os itens de sobrevivência que me faltavam, e decidi ir ao supermercado comprar muito pão, um pacote extra de velas e um maço de cigarros. Isso, mais um rádio a pilhas, com certeza me ajudariam a passar uma madrugada insomne e sem tevê a cabo ou internet. Na fila do supermercado ouvi uma frase que sintetisava todo o espírito da coisa:
- Mais uma noite de acampamento, hein!
Enquanto pagava o "kit apagão" versão nerd recluso, me pus a pensar no que poderia ter ocorrido. Provavelmente a ligação "90 dias em meras 48 horas" de tão engabelada e improvisada, havia se partido por culpa do vento. Um telefonema da Célia confirmou isso, mas o rádio me deu maiores detalhes: a ligação não havia sido feita pra suportar ventos mais fortes que cento e vinte quilômetros por hora. Penso eu que não havia sido feita pra suportar merda alguma. Dizer que técnicos super bem preparados levaram horas fazendo os cálculos é de se desconfiar ao sair de uma boca que disparava seus "nós se reunimos", "o comandante dos bombêro" e "os cabo seco" em plena coletiva à imprensa. Esta, aliás, foi a demonstração da ironia que vive o nosso governo. O governador gaguejava, repetia palavras, tropeçava nas palavras mais difíceis e acabava criando frases sem sentido algum. Um senhor representante de nossa companhia elétrica irritou-se com um jornalista já na segunda pergunta e pôs-se num escândalo, totalmente irritadiço. Voltando a falar do vento, um radialista disse, e muito bem dito:
- Eles moram em Floripa e nunca ouviram falar de vento sul?
E este desconhecido vento sul é o grande terrorista desta nossa noite sombria. Numa aitude maléfica, típica da odiosa mãe natureza, o demônio vento sul jogou um dos cabos improvisados contra um dos pilares da ponte Colombo Salles, fazendo assim um fio-terra, o que levou o sistema a desligar-se sozinho, por segurança. E o senhor representante gritava, no palácio da agronômica:
- Eu já disse que o cabo tá perfeito! A gente ligou por um minuto, e se funcionou um minuto, é porque o cabo é perfeito! Eu posso mandar ligar a hora que eu quiser! O cabo tá perfeito!
Quando o mesmo anunciou sua ordem de que religassem o cabo, por ter o vento fraquejado, penso eu que o fez para provar que podia.
- Ó! Não falei que tava perfeito? - ele diria, provavelmente, se lhe faltasse (mais) prudência.
A cerca de um mês atrás, por incrível coincidência - e para alguns parecerá história de pescador, mas como dizia meu tio-avô doido: é tudo verdade! - passávamos eu e um amigo, o Varda, por debaixo da ponte Colombo Salles, a caminho de não me lembro exatamente onde. Ao avistar o emaranhado de cabos e tubulações que se cruzavam por debaixo da ponte, ele fez um comentário:
- Isso, com certeza, é a maior cagada que já se fez nessa cidade!
- Por que?
- Porque toda a alimentação de energia da ilha passa por aqui. Se acontece alguma coisa, é blecaute total, não tem nem plano de emergência.
- Ih, então vou ter de mudar meus planos.
- Que planos?
- Eu planejava explodir a ponte pra criar uma nação independente, mas aí eu ia ficar sem internet...
E eis que lá estava eu, num início de tarde, ainda sentindo nos cantos dos dentes alguns restos de macarrão com salsichas e molho, me recuperando de uma ressaca de tequila; quando sem aviso tudo se desliga. Televisão, computador e todos os badulaques eletrônicos que a classe média moderna está tão acostumada a deixar ligados o dia inteiro, mesmo sem motivos.
- Apagão! - disse Luís André, o proprietário da casa.
- Tem isso por aqui? - interpelei quase que imediatamente, sem saber se ironizava com a precariedade do edifício ou se defendia a minha cidade, onde "esas coisas não acontecem".
Foi a desculpa para que eu, Luís André e Dagoberto nos despedíssemos e cada um tomasse o seu rumo. Luís e Dagoberto para a trindade, e eu para o continente.
Passando pelo centor da cidade, percebi alguns burburinhos, alguns comentários, o clássico "algo no ar" que não se sabe definir a origem ou muito menos se dá atenção ao significado. O primeiro momento em que deixei-me ouvir a voz do ambiente foi ao atravessar a rua:
- Ah, é mesmo... Não tem luz! - disse uma senhora para a filha. Só então dei-me conta que o centro todo estava sem energia. Nada que não retornasse ao seu normal em alguns minutos. Provavelmente um funcionário tentando mostrar serviço havia rompido um cabo ou dois, pensei.
A situação completa, na verdade, só foi alcançar o meu distraído cérebro por volta das cinco da tarde. Meu sogro falara ao telefone algo sobre um carro pegando fogo e asfalto derretido. Ninguém entendeu nada e coube à televisão dar-nos maiores detalhes. Depois do fato esclarecido, um espetáculo à parte: da sacada da minha namorada, Célia (creio que todos que por aqui passam a conhecem) víamos tudo, incluindo a hilário ponte Hercílio Luz acesa pela metade. Pedi à minha mãe que trancasse todas as portas e janelas, e que proibisse meu irmão de sair à rua após o anoitecer. Apesar de tantas precauções tomadas, não houveram maiores tragédias no que se refere à segurança pública (nada além dos assassinatos e roubos já tão comuns, melhor dizer). Meu sogro, cheio de ciúmes desde que cheguei naquela casa, alfinetava os meus conterrâneos:
- Tinha de ser coisa de catarinense.
Lá pela enésima e tanta provocação do velho (que, em minha opinião, não tem porquê de ser muitas vezes insuportável, somente por estar na casa dos setenta), ignorei completamente a prudência e a boa educação, e pus-me a defender os meus, curta e grossamente:
- Graças a Deus que essas coisas só acontecem com esses "catarinenses de merda". Se fosse com aqueles cariocas, daqui ia dar pra ver os incêndios, saques e arrastões.