Fidelização de clientes

Estávamos quase em desespero. Pra começo de conversa, rolou uma divisão injustas de riquezas na nação dos Paivas. Júnior, o pirralho pentelho de 13 anos tinha 27 reais. Carla e Célia, juntas, tinham 20 reais. E eu, o mais miserável, tinha 2 reais e 50 centavos, apesar de ter 20 reais me esperando em casa.
Júnior insistia a três dias que queria comer pizza. Era o único. Ainda se achava no direito de que todos pagassem quantias iguais. É como querer que micro e pequenas empresas paguem a mesma quantidade de impostos que grandes impérios industriais. Então dane-se a pizza.
Ontem, num consenso, resolvemos ligar pro Bokas. O Júnior, birrento como sempre, trancou-se no quarto e disse que não ia comer. Ninguém deu muita bola pro imperialista.
Ligamos pro Bokas, aliás, pra dois deles, e não faziam mais entregas. Pizza Hut, nem pensar. Habibs, um fracasso. Num acesso de pânico, tentamos até o Kayskidum. É um absurdo viver numa cidade onde não se consegue pedir comida pelo telefone após a meia-noite.
Faltavam dois minutos para a uma da manhã (horário limite para se encontrar algum serviço de tele-entrega neste fim de mundo) quando alguém lembrou do Shambalá. Nossa última chance. Infelizmente o entregador havia acabado de sair para fazer a última entrega. Se tivéssemos ligado para lá no começo, já estaríamos mastigando nossos sanduíches.
O desânimo tomou conta de todos. Eu, Carla, Célia e Baixinha desistimos de vez e já pensávamos em dormir, quando o telefone tocou. Era do Shambalá.
Avisavam que o motoqueiro ainda estava lá, e que se quiséssemos ainda podíamos fazer o pedido. Pedidos dois x-corações e uma coca grande. Quinze reais e cinquenta, precinho mais do que justo. Entre gritos de vitória e muitas risadas, o telefone ainda tocou mais uma vez, para confirmarem o endereço. Em questão de minutos estávamos forrando o estômago com um largo sorriso que ia de orelha a orelha. Não eram nenhum lanche do Bokas, nada que nos deixasse enjoados de tanto comer, mas o sabor de sucesso fê-los parecer um banquete de reis.

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