Tá... Acho que isso prova que sou péssimo em greves. Um comentário vai ter que ser o suficiente.
Povinho parece que tem preguiça de digitar um mínimo "oi" que seja. O counter ali do lado vai subindo, subindo, e os comentários vão se tornando cada vez mais escassos. Das duas uma: ou o que escrevo é tão maravilhoso e bem construído, que ninguém consegue pensar em nada a acrescentar; ou eu só escrevo merda mesmo e ninguém mais se interessa. No caso, se for a segunda alternativa, por que diabos as pessoas continuam vindo aqui? Tenho certeza de que este blogue não têm tido o tipo de propaganda responsável por atrair novos leitores.
* * *
Acho que nunca escondi (ou se escondi, nunca o fiz com muita vontade) que não vou muito com a cara do meu cunhado. Não o Júnior. O Júnior é legal. Naqueles seus cento e oitenta e três centímetros desajeitados de altura há uma ingenuidade e uma doçura que torna quase impossível não gostar do cara. Os que o fazem, é por pura inveja.
Meu grande problema é com o namorado da minha irmã. Ou ex-namorado, ainda não se sabe. O senhor David, músico de quase-sucesso e muita sequela na cabeça. O Visconde de Sabugosa frequentou meu bar sem jamais ser capaz de me cumprimentar ou mesmo trocar uma ou duas palavras comigo, e de repente ele surge do nada, invadindo um território ainda mais íntimo para mim: a minha casa.
Já na primeira oportunidade que tive de conversar com o cara, deixei a antipatia natural que tinha por ele de lado, e (sem minha irmã saber - ela me mataria se soubesse disso), fiz questão de aconselhá-lo: era bom que ele desse muito valor à minha irmã, pois ele era mais feio e mais sequelado que eu; e eu, por exemplo, tinha certeza absoluta que nunca tiraria a sorte grande de ter uma mulher como a minha irmã. Ele tinha, e estava jogando fora. Chance como essa, ele nunca teria de novo.
Não sei se foi o conselho ou outra coisa, mas os dois se entenderam logo em seguida. Ele dormia mais aqui do que na casa dele, almoçava e tomava café com todos da família, e trouxe metade dos seus pertences pra cá. Bem dizer, se mudou para o quarto da minha irmã. Isso deve ter feito com que ele se sentisse meio "o homem da casa", pois logo já estava a bater as portas com raiva e sair fazendo escândalos pela rua enquanto minha irmã chorava no sofá da sala. Ou melhor. Fez isso uma única vez. No dia seguinte, sentados à mesa do café, conversamos eu e ele. Minha mão tremia, de ódio. Tinha vontade de espancá-lo com a cadeira da cozinha. Me segurei, tentei ser o menos agressivo possível (mas vocês devem entender que é muito difícil), e lhe disse que se esperava continuar sendo bem recebido nesta casa, um mínimo de respeito por mim, minha mãe e, principalmente, pela minha irmã; ele precisava ter. Bater portas no meio da madrugada, acordar minha mãe por causa dos gritos, e me forçar a ver a cena deprimente da minha irmã aos prantos ao lado do telefone; definitivamente não eram exemplos desse respeito. Nunca vi minha irmã engolindo tantos sapos por causa de alguém, principalmente por um namorado. E me fazia espumar de raiva o pensamento que ela se entrega assim tão completamente a alguém como ele, que não fazia por merecer essa dedicação.
Após essa nossa conversa, eles passaram a brigar na entrada do prédio, onde não incomodavam ninguém.
Perdendo novamente o tom e a linha conexa deste texto, e dirindo o narrador a você, ocasional leitor: isso seria motivo suficiente para não gostar do cara? Ou é simplesmente um sentimento não-coeso influenciado (e muito) por uma natural preocupação pela própria irmã? A resposta é complicada, mas bastante válida. Em primeiro lugar, não vejo por que esconder que nunca tive grandes afetos pela minha irmã. Por muitas vezes a acho egoísta, arrogante, e inclusive mesquinha. Ela tem um ar de superioridade e um talento para se provar sempre certa (mesmo, e principalmente, quando não está) com que poucos são capazes de lidar. Mas ela é minha irmã. E também tem seus momentos de fraqueza, onde ela precisa desesperadamente que alguém lhe estenda a mão, e ao invés de esperar, perdida, por essa ajuda, ela pede àqueles que mais lhe importam: nós, a família dela. É uma pessoa que não aceita de maneira alguma o meu jeito de ser (da mesma forma como não aceito o dela), mas o entende como ninguém. Por fim, é minha irmã, que me protegeu várias vezes e foi protegida tantas outras por mim, dividiu por duas décadas o mesmo teto que eu. E, por mais desprezível que fosse (graças a Deus não o é), ainda seria merecedora desse meu desejo de que esteja sempre bem.
Então, me delongando ainda mais neste texto desconexo e movido pela emoção confusa, dou-lhes um novo motivo para minha grande antipatia pelo personagem citado: apesar de tantos motivos que eu tinha para agredí-lo, e mesmo assim nunca o fiz; ele próprio tomou a iniciativa. Invadiu meu quarto, elevou a voz, acusou-me de uma falta que eu não havia cometido, e ainda ameaçou-me fisicamente. Nas suas palavras, me quebraria a cara dentro da minha própria casa, na frente de quem estivesse por perto. E poucos dias após quis fazer que nada havia acontecido e me cumprimentar como um bom e velho amigo. À merda com o desgraçado.
À merda com o desgraçado, que fez minha irmã de gato e sapato quando os dois foram morar em Belo Horizonte. Que fez minha irmã chorar de desespero e perder noites de sono porque o namorado havia sofrido um acidente com a moto. Que descontou nela a raiva que tinha por não poder andar e a acusava de inútil, quando esta tinha deixado de trabalhar para poder se dedicar às necessidades dele. Que se aproveitou de todo o amor dela quando ele mais precisava, e assim que pôs os pés no chão e voltou a andar e tocar, se desfez desse amor com a facilidade que se joga fora um pano de chão já muito gasto.
À merda com ele, que bebeu do carinho da minha mãe, comeu à minha mesa, se cobriu com os lençóis que eram meus, provou de uma intimidade com a minha irmã que antes só era reservada a mim, e não cumpriu a única exigência que lhe foi feita em troca de tudo que essa família lhe deu de bom grado: que cuidasse, e muito bem, daquela que tão bem dele cuidou.
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De alhos para bugalhos. Voltei a estudar. Tudo bonitinho, como de ver. Apostila, pasta nova, caneta, e a namorada indo se despedir de mim na porta de casa. É. Estudar até que pode ser bastante agradável.
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Ontem, numa escapada básica dos estudos, acabei indo parar na escadaria, onde encontrei o Parazitta. Me ofereceram um copinho de cachaça, e recusei. Ofereceram de novo, e de novo. Lá pela quinta, topei. Cenas bizarras, como a menina que me pediu aulas de inglês. Traduzi três ou quatro frasesinhas para ela, como "God is real, but is in heaven", e expliquei a diferença de sky/heaven e o contexto da frase. Por fim, me pediu que verificasse uma frase que ela mesma havia traduzido, com o dicionário do lado: "Himself to love signify to suffer, no wish more to love you". Li a frase umas três vezes tentando entender melhor... "Ele mesmo para amar significa para sofrer, sem mais desejo de amar você" foi a melhor tentativa. Então ela me mostrou a frase original e eu fiquei rindo uns quinze minutos: "Se amar significa sofrer, não quero mais amar você".
- Porque tás rindo? Eu procurei no dicionário....
* * *
A mesma menina, Jacqueline, pouco tempo depois estava sentada num canto, emburrada, enquanto três ou quatro bêbados tentavam segurar o seu namorado, ainda mais bêbado, que chorava, o nariz escorria até o queixo, e gritava que alguém tinha batido nele.
* * *
Cheguei em casa, meio torto, ensaiando a historinha: "Saí na última aula, encontrei o parazitta, comecei a beber, tentei te ligar, mas meu celular estava sem bateria". "É. Tá perfeito. Resume direitinho a coisa toda".
Não adiantou. Cheguei em casa e tomei esporro por ter bebido sem a patroa. Pra compensar meu delito, deixei ela abrir a garrafa de Johnnie Walker.
- Felipe Meyer
- Publicitário, redator e pseudo-quadrinhista. Ser humano do gênero masculino mais perto dos 30 que dos 20. Gestor de conteúdo do Jornal de Debates. Formado em Comunicação Social pela Faculdade Estácio de Sá de Santa Catarina. Casado, pai de uma linda coleção de revistas em quadrinhos, exilado de Florianópolis e tentando fazer a vida em São Paulo, na Auszuglândia.
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