Estavam sentados à beira do riacho, o Senhor Ganso e o Senhor Chapéu. O Senhor Chapéu fumava um grosso cigarro de palha e o Senhor Ganso coçava os pés.
- É impressão minha ou aquela lá, se afogando, é a Senhora Bico de Pena? - perguntou o Senhor Chapéu.
O Senhor Ganso parou de coçar os pés, levantou o rosto para poder ver melhor e disse:
- Sim, é ela mesma.
Os dois Senhores cumprimentaram educadamente a Senhora Bico de Pena, que educadamente cumprimentou-os de volta, antes de afundar de vez nas águas do riacho.




Tenho seis anos e estou na emergência do Hospital Universitário. Tenho uma toalha encharcada de sangue enrolada no braço esquerdo. Abraço minha irmã, que ao contrário de mim, não pára de chorar.

Tenho sete anos e estou de volta ao Hospital Universitário. Tenho um tubo enfiado na minha garganta. Tenho o desprazer de passar pela primeira lavagem estomacal da minha vida. Prometo nunca mais tomar remédio sem a ajuda da minha mãe. Na confusão dos frascos, acabei bebendo remédio para piolhos.

Tenho sete anos ainda, e estou mais uma vez no Hospital Universitário, um mês depois. Passo pela minha segunda lavagem estomacal. Dessa vez, tomei um copo de detergente pensando que fosse guaraná. Os amigos de plantão do meu tio gritam: "Adriano! Teu sobrinho de novo!"
Ele não acredita.

Tenho oito anos e estou novamente no Hospital Universitário. Ganho uma nova cicatriz, dessa vez na cabeça. Oito pontos.

Tenho nove anos e pra variar estou no Hospital Universitário. Dessa vez passo por uma pequena cirurgia no joelho. Enquanto grito todos os palavreados de que posso me lembrar, meu tio tenta aplicar a anestesia.





vermelho

O dólar caiu.
A gasolina vai baixar.
As economias de países pequenos e pobres está se desnvolvendo com maior rapidez e os investidores internacionais estão recuperando a confiança nos pequenos mercados.
O mundo inteiro aos poucos está se unindo por um objetivo em comum e, por mais estranho que pareça, este objetivo é a paz.
Diferenças em breve serão postas de lado e inimigos irão se defender juntos de uma ameaça maior, um gigante que estende seus tentáculospelo mundo sem se importar com as vidas humanas.
E neste momento surge a pergunta:



Mais uma vez o copo passou por mim. Minha religião não permite, eu disse, brincando. Ao meu lado, Raul Gil falava sem parar sobre O Cobrador, livro de sei lá quem, e como as situações descritas nele podem acontecer de verdade, com qualquer um. Bum, ele dizia, te matei pra pagar o algodão doce que eu não tive. Bum, te matei pra pagar o balão que não me compraram. E eu permanecia ali, fingindo uma cara de entendedor e interessado pelas palavras apressadas às quais eu já nem mais ouvia. À essa altura minha atenção já estava voltada para a garota sentada um ou dois degraus abaixo de mim. Seus seios pequenos e perfeitos ameaçando saltar para fora da blusa, duas bolas de tênis presas ao peito sem muito cuidado, criando um contraste impossível de se ignorar, assim como o nariz pequeno que era a única coisa bela naquele rosto de não mais que quinze anos. O copo passou de novo. Deus condena, brinquei outra vez. Aproveitei uma aproximação de Raul gil à garotinha de seios redondos, nariz pequeno e rosto feio para tomar ação contrária e me distanciar daquela conversa indesejada. Da panela para o fogo, fui cair nas divagações de Paulo, que sentado sobre o corrimão mantinha-se equilibrado por apenas um pé. Tentei chamar a atenção de Guilherme, a única pessoa que poderia explicar minha insistência em permanecer naquele ambiente incômodo de bobagens mascaradas de cultura e puro alcoolismo juvenil; mas ele só tinha olhos e ouvidos voltados para Ana, sua namorada. O copo passou mais uma vez e evitei repetir a brincadeira, já sem graça alguma, enquanto evitava o olhar de um outro indivíduo, sentado vários degraus abaixo. Era nele, na verdade, que meus pensamentos se concentravam, apesar de tudo. A idéia de que ele pudesse ter infectado Janine - minha ex-namorada - perambulava todos os cantos de minha mente. E a raiva de não poder fazer nada caso a possibiliade viesse a se comprovar uma realidade, apesar de toda a agressão física que eu era capaz de causar como punição a alguém que me inspirava tamanho ódio e desprezo... Essa raiva, essa certeza da minha impotência... Foi o que me manteve sentado, e calado.

Arrumei a mesa com cuidado. Por baixo, mantive a toalha vermelha, que combina com ocasiões festivas. O orçamento deste ano não permitia grandes ovos amontoados, cada qual endereçado a fulano ou beltrana. Ao invés disso posicionei uma fruteira no centro da mesa, cobri-a com fiapos de algodão que sobraram das experiências que minha irmã fez com pátna nos móveis uns dois anos atrás, e coloquei nela o único ovo de páscoa deste ano, com uma pequena etiqueta que imprimi com o nome "Henrique". No restante - não só da fruteira como da própria mesa - espalhei bonbons, ovinhos recheados, barras de chocolate, balas; e completei com a mensagem: "Feliz Páscoa! Votos do seu irmão e filho preferido, Felipe."

Coloquei o despertador para tocar cedo. Espero acordar antes de todos e ir para a casa da Célia, munido dos dois presentes especiais que preparei - um embrulho e um pequeno baú - para ela, e com disposição para preparar um farto almoço de páscoa e suportar com um sorriso no rosto os constantes resmungos e reclamações do pai dela.

Se continuar desse jeito, em dezembro acabo topando me vestir de Papai Noel.

* Eu estou aqui

* Realmente, o Rodrigo Santoro aparece mais do que o esperado no novo trailer de "As Panteras". Conhecendo a capacidade das tietes da Globo em aumentarem a importância das coisas, dava pra pensar que a participação do cara ia ser ridícula. Mas ele é EVIL ®!!!
Mas... Será que mais alguém reparou que o mané não abre a boca? Será que ele sequer resmunga alguma coisa no filme?

* I LOVE MY DIVX: Diferenças gritantes entre o DivX de "Jay & Silent Bob Strike Back" e o DvD. A mais sentida é a ausência da cena das prostitutas, pra mim a mais engraçada de todo o filme. Podiam ao menos ter colocado "Cenas Cortadas" na seção de bônus extras, mas nem isso...

* É engraçado como as pessoas ficam facilmente entediadas. Minha irmã estava até semana passada sem televisão (não sei se avisei, mas ela agora mora em BH). Antes de embalar a tevê do quarto dela e mandar via aérea, ela estava esfregando os ladrilhos da cozinha para passar o tempo. Meu sogro ficou sozinho na páscoa (minha sogra está em POA visitando o pai doente, minha cunhada debandou pra casa do namorado e meu cunhado deve estar na casa de algum amigo jogando futebol) e inventou de dar uma geral no quarto. Daqui uns quinze minutos o despertador vai tocar, a Célia vai acordar, e vamos nos vestir pra ir fazer companhia pro velho. Espero que dê tudo certo. Ele fica de péssimo humor quando fica sozinho em casa.

* Essa páscoa está sendo meio apertada. Comprei um saco de bombons e uns chocolates de noventa e oito cents pra distribuir entre a molecada da casa (leia-se: meu irmão e minha mãe). Pra mim, comprei uma garrafa de Vodka (que já foi metade pela goela). Pra minha fofinha, não dá pra dizer porque é surpresa e ela tem o endereço do blogue.

* Trinta reais foi o que me sobrou, até o dia vinte e cinco. Mais um mês sem tevê a cabo. Dia vinte e cinco, aliás, caem todos os descontos da unimed e dos gastos em farmácia. Considerando que não posso atrasar o telefone nem um diazinho (vence dia vinte e sete) por causa do financiamento, vou ter de aprender a fazer milagres. Vou colocar várias notinhas de dez reais numa cestinha e sair distribuindo pro povo aqui de casa. Depois a gente recolhe tudo de novo e vê quanto tem. Se Jesus Cristo conseguiu com os pães, por que eu não consigo com a bufunfa?

* O Bruno Alves escreveu um artigo interessante no Bancazine, onde propõe que todos joguem seus gibis do Capitão América fora como protesto aos Estados Unidos. Eu disse interessante, e não que concordo. Eu vou é catalogar tudo e tentar trocar por HQ nacional.

* Não sei se avisei, mas juntei as idéias no liquidificador e comecei um novo roteiro. A história deve finalizar numas 80 páginas, só não avisei isso ainda pro coitado do Santiago, que é quem provavelmente vai desenhar. Envolve principalmente quatro personagens: Mão de Ferro I e Mão de Ferro II, Marechal Brasil, e o Herói. Vai contar a trajetória desses heróis, suas respectivas heranças, e as coincidências que os unem.

* Essa história, aliás, vai ter ligação com os Impávidos, projeto do Estúdio Elemental guardado a sete chaves. Mesmo as informações que me foram passadas não formam um porcento da coisa toda, e ainda assim vivo recebendo lembretes pra não liberá-las pra ninguém. Só posso adiantar que a coisa vai ser boa, muito boa, e grande.

Semana passada o Cauê me mandou mensagem pelo ICQ, pra gente combinar de se encontrar e ele me entregar o casaco da Célia, que ficou no carro dele no dia da festa da Lupus. Engraçado foi que o cara nem fez questão de mencionar que fim levou a minha garrafa de vodka que, pobrezinha, estava ainda na flor da idade, quase cheia. Aposto como o mandiga bebeu tudo. ^_^



Tive uma agradável surpresa ao acordar. Pensava que minha mãe só teria alta no fim da tarde (conforme prometido pela médica, que não a queria internada em plena páscoa), mas ao sair do quarto já avistei-a, toda prosa, rindo ao telefone.
É muito bom tê-la em casa novamente.
Ah... E pra quem perguntou: acabou não acontecendo nada. Durante uma semana ela se expôs aos mais diversos exames, não precisaram passar a faca nem nada, e no fim os médicos chegaram à mesma conclusão que eu - que nem segundo grau completo tenho - já havia chegado há muito tempo: não passa de uma inflamação muscular, resultante da queda que teve na praia e da bursite que já aflige minha mãe a um bom tempo.
Apendicite my ass...




Dia 17 de março completaram-se oito anos do falecimento de Marco Antonio de Souza (sem o ^ mesmo - ele brigava muito se errassem nisso), e eu nem me dei ao trabalho de fazer um post em homenagem. Quase um mês depois, o erro é devidamente corrigido. O cara merece.
Além de produzir e executar o primeiro curta-metragem em animação da história do cinema catarinense, foi sócio-fundador das empresas Graphit e Mercado Sul (hoje unificadas na Mercado) e idealizador de diversas campanhas publicitarias de sucesso, como "Mudanças Mõnica" e "Qualidade BESC".
E principalmente, é mais do que responsável (é , bem dizer, culpado) pela existência do autor egocêntrico e saudosista deste blogue.

Sexta-feira, caminhando pelo centro (ou melhor, correndo, pois o horário de visitas do hospital era até as quatro e eu ainda precisava passar no banco), passo em frente ao Bob's e encontro um Shao barbado e bêbado que grita por mim à distância: "Ei! Olha lá meu sóóócio!"
O indivíduo não dizia coisa com coisa, só repetia que tinha ficado rico da noite pro dia e não sabia mais o que fazer com o dinheiro.
- Tenho R$34.608,56 no banco. Tinha trinta e cinco... mas eu bebi.
Contou também que quando vivia duro, não arrumava emprego. Agora que nadava na bufunfa tinha arrumado um emprego de segurança a vinte e cinco mangos por noite. Eu não saberia dizer se ele reclamava ou fazia piada.
- Ah... Comprei um bar pra gente. Paguei 15 mil, mas valeu a pena... O bar é lindo.
Não deu pra perguntar muito mais sobre o assunto pois me faltava tempo e a Célia já me puxava pelo braço. Prometi passar por ali mais tarde ("Se eu não tiver aqui, tô no boteco do lado" - disse ele), mas os planos não colaboraram.
Sábado à noite, depois da terceira tequila, uma loira desconhecida me cutuca e aponta pra cima. Eis que em cima de uma plataforma estava um shao (sóbrio, dessa vez) engravatado e com o crachá da FMX.
- Eu ia inclusive te ligar pra convidar pra vir pra cá.
- É mesmo?
- É, mas não tive pouco tempo. De qualquer modo, nem precisei. (risos)
- Depois tenho que falar contigo.
- Eu também. E ainda quero saber como diabos tu gahou 50 mil de uma hora pra outra.
- Anh? Até tu já tá sabendo? Quem foi que te contou?
- Tu mesmo, rapaz! No meio da bebedeira de sexta!
- Ah é?
E nada mais foi muito bem explicado.







Pra quem não sabe (a exemplo do Averon), o ser vermelho e amarelo ali de baixo com uma bola a la Mysterio na cabeça chama-se Homem-Lua, e é um personagem criado por Gedeone Malagola. A princípio, ele deveria estrelar revista própria, tendo histórias do personagem Raio Negro completando a revista. Mas o comandante da FAB trajando uniforme preto e botas amarelas acabou caindo mais no gosto do editor (e também, depois, do público) e se tornou o grande astro da revista. E Homem-Lua ficou com as histórias "preenche-miolo".
Mas nem por isso perde mérito. O Homem-Lua era um misto de Batman e Fantasma e, apesar de muitas vezes ser comparado ao americano Mysterio, foi criado muitos anos antes do famoso inimigo do Homem-Aranha. O Homem-Lua era um ser-humano normal, super inteligente e bem treinado, um detetive especializado nas mais precisas artes marciais e dotado dos mais variados recursos para combater os criminosos. Cercado de lendas e misticismo, ninguém jamais soube sua verdadeira identidade (nem mesmo os leitores).

Minha mãe vai precisar ser internada, e eu estou com um mau pressentimento. Péssimo, aliás. A última vez que senti algo do gênero ela quase morreu. Tenho um mau pressentimento sobre o mau pressentimento.




Eu tava devendo esse

Beakman é padeiro e filiado ao PCdoB.

Everybody was Kung Fu Fighting



Sonhei que as tropas britânicas deixavam o Iraque devido às baixas e revoltadas com o "fogo amigo".
Sonhei que a França vendia armas ao Iraque a preço de banana.
Sonhei que eu tinha uma granada de mão.
Sonhei que eu escondia a granada de mão pra resistir à tentação de jogá-la na cabeça de um pentelho que passou na rua gritando e me acordou.




Anos 80: em 15 de novembro de 82 realizam-se em todo o país eleições diretas para os governadores de estados. A crise econômica agrava as tensões populares e diversos supermercados são saqueados. Em 85 o regime militar - que prevaleceu por 21 anos - chega ao seu fim e Tancredo Neves é eleito presidente da república, mas falece antes de tomar posse. Nos primeiros meses do governo Sarney surge um ícone que traz novas esperanças à população. Trajando capa e um uniforme com as cores da bandeira, o Herói Nacional combate aqueles que ameaçam a soberania brasileira e a segurança de um povo a muito abandonado por Deus.

Anos 90: Conflitos no golfo Pérsico têm recordes de audiência em tevês do mundo todo.
Impeachment do então presidente Fernando Collor, em 92. Enquanto o povo lota os telefones opinando no programa estreante de televisão Você Decide, inicia o governo Itamar Franco, que se encerraria pouco mais de dois anos depois, com um dos maiores índices de popularidade da história da república. Tendo a nova administração como patrono, surge o Esquadrão Canarinho, um grupo de super-heróis com a missão de reacender no brasileiro o orgulho pelo próprio país. Além do adorado Herói Nacional, participam do grupo os cinquentenários Marechal Brasil e Mão de Ferro (este último longe dos holofotes, como assessor tecnológico do grupo) e alguns heróis até então desconhecidos.
* 1994: em 1º de julho é instituído o plano real, que elevaria a futura candidatura (e consequente vitória nas eleições) do então ministro da fazendo Fernando Henrique Cardoso, à presidência.
* 1995: com o fim do mandato de Itamar Franco, chega também o fim do Esquadrão Canarinho. Abandonados pelo sistema que os patrocinava e mantinha, e agora privados dos benefícios dos quais dependiam, a maior parte do Esquadrão renuncia à carreira heróica e tenta seguir a sua vida como possível. O Marechal Brasil aposenta-se definitivamente. O Mão de Ferro é obrigado a abrir mão de sua milionária empresa para o pagamento de diversas dívidas, e instala-se com a família no interior do estado de São Paulo. O Herói Nacional abandona o uniforme mas mantém a máscara. Pede que as pessoas passem a chamá-lo apenas de "Herói" e retoma um sonho antigo: prestar vestibular.

Século 21: o Brasil elege depois de muitos anos o ex-metalúrgico Luís Inácio "Lula" da Silva. Uma nova onde de patriotismo invade o país e ganha as capas das principais revistas. Lá fora, George W. Bush, filho, declara nova guerra ao Iraque, causando revolta e manifestações pela paz em todo o mundo. Aqui, nosso "Herói" tenta levar a vida como pode, segurando com dificuldade o emprego num pequeno escritório de advocacia, enfrentando monstros espaciais e terroristas no caminho de volta da padaria, e suportando com grande paciência as reclamações intermináveis de sua mãe, que não consegue compreender por que seu filho ainda não achou uma boa moça para casar.


 

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