Minha nossa. Pessoal adora se estressar, e acaba metendo os pés pelas mãos. Escanear quadrinhos é ilegal? Não. Divulgá-los sem autorização dos autores/detentores dos direitos é ilegal? Sim. "Oh, meu Deus! Então podemos ir parar na cadeia!". Não. A não ser que você seja muito estúpido. Não deu certo? Flagraram você com a mão na massa? Ou você abaixa a cabeça e pára com a pirataria ou arruma um novo pseudônimo, um novo servidor, e vai jogar seus scans em outra página. As páginas de scans vão e vêm, e faz três anos que eu continuo baixando minhas piratarias - sejam elas mp3, livros em pdf, quadrinhos ou filmes - de um jeito ou de outro. Cuidado ao usar a internet! A RIAA ou o Oggh podem vir atrás de você.
Engraçado é lembrar como eu conheci o Oggh, em São Paulo, distribuindo cartõezinhos de seu site de RPG. O Oggh, assim como eu e uns duzentos fulanos que eu conheço, faz parte da malfadada "geração xerox", que fotocopiava livros de RPG a torto e a direito, fosse pelo preço dos livros, fosse pela escassez de títulos publicados aqui, fosse pelo que fosse.
Fato é que todo mundo que eu conheço pirateia algo. Negar este ato é de uma hipocrisia imensurável. É como os fansubbers dizerem que estão vendendo fitas para difundir o anime no Brasil e criar interesse nos produtores daqui. É pirataria, sem tirar nem pôr. Eles estão vendendo material estrangeiro sem pagar direitos autorais. Difundir o anime my ass! Essa ano fiquei sabendo de Animatrix rolando no CIC uma semana depois do dvd chegar às locadoras. É pirataria simples e pura, tenham a dignidade de admitir isso.
Admitam isso, e eu admito que continuo baixando.
Quando saiu em vídeo "Seven - Os Sete Pecados Capitais", lembro de ter lido (não sei se numa crítica ou na própria capa da fita) uma frase que falava da inveja de vários cineastas por nunca terem pensado numa idéia tão simples e tão boa. Longe de fazer minhas estas palavras, sou levado a concordar, no entanto, que é um filme muito bom e - até que se prove o contrário - bastante original.
O mesmo não pode-se dizer sobre a trilogia Matrix - cuja terceira e última parte estréia nos cinemas dentro de poucos dias - pelo menos no que diz respeito à originalidade. Claro, o primeiro filme marcou época, fez milhares de pessoas dividirem suas opiniões entre "pop" e "cult", muitas sem compreenderem as obras e eventos que levaram à utilização destes conceitos até hoje. O segundo filme criou aquela expectativa, "o que eles vão inventar agora?", e nos fazia (ou me fez, pelo menos) babar a cada nova cena divulgada na mídia. Pena não ter correspondido à expectativa. O excesso de utilização do "dublê digital" é algo que acaba com muito da graça do primeiro filme. O clima messiânico e filosófico pode colaborar para a profundidade e conteúdo, a solidificação e justificativa de uma trama; porém fez muitos conhecidos meus saírem do cinema com mais dúvidas que respostas. E eu conheço pouquíssimas pessoas que conseguem gostar de um filme que sequer entenderam. Claro, há possibilidades ainda piores que não entender o filme. Há os que entendem, à sua maneira, se embrenham em vagarosas discussões com outros amigos (que também acham que entenderam) e daí surgem teorias bizarras como a "matrix inside the matrix" e suas definições "green" e "blue". Cito estes exemplos, pois faço parte deste seleto grupo de pessoas que acreditam piamente que entenderam a loucura toda, e estão arriscados a darem de cara no muro com o lançamento do terceiro filme.
Anyway, eu falava da criatividade de Matrix. A premissa do filme me obrigou a ver cenas lastimáveis de adolescentes perguntando "como você sabe que o rosa que eu vejo é o mesmo rosa que você vê" ou falando de suicídio, "já que o mundo não é real, mesmo". Causa este furor e toda esta ladainha graças à mídia em que foi transmitida. A premissa, porém, é mais velha que o tempo em que minha avó trepava.
Pra começar, vamos falar de Lewis Carrol. Matrix credita muito de sua trama a Aline no país das Maravilhas com seus "siga o coelho branco" e "vamos ver quão funda é a toca do coelho". Vi muito gente falando de boca cheia sobre Alice... depois de assistir ao filme, como se fossem grandes experts no assunto. Mas poucos são os que falam de Aline no país dos espelhos onde está a grande inspiração de Matrix. Tweedledee e Tweedledum perguntam a Alice se ela sabe o que o Rei Vermelho está sonhando, e ela diz que não. É então que lhe dizem que o Rei está sonhando com ela própria, e que tudo aquilo é parte do sonho dele. "Nunca tente acordá-lo ou você irá sumir", eles dizem.
Na década de sessenta, os editores de quadrinhos tiveram a idéia de juntar Jay Garrick e Barry Alllen (respectivamente o primeiro - publicado no Brasil como "Joel Ciclone" - e o segundo Flash) numa mesma história. O grande problema: quando o segundo foi lançado, os editores haviam dito aos leitores que Jay Garrick era um mero personagem de quadrinhos, tanto no mundo real quanto no mundo de Barry Allen. Para justificar o encontro, foi dito que Gardner Fox - escritor do Flash - quando dormia vibrava numa frequência igual à da realidade de Jay Garrick, por isso dizia que as histórias lhe vinham em sonhos. Isso explicava inclusive por que a revista do Flash havia sido cancelada no fim da década de quarenta - Jay Garrick havia se aposentado, e por isso Fox não mais "sonhava" com o herói.
Já que estamos falando de quadrinhos, vamos mais à frente, com Alan Moore. Moore havia dito em uma entrevista no início da década de oitenta, como tinha vontade de atualizar um antigo personagem britânico, Marvel Man (cópia do Capitão Marvel, criada quando este teve suas histórias interrompidas). Dito e feito, coube a ele dar toda uma nova roupagem ao herói, esquecer o seu passado de vilões engraçadinhos e parceiros pré-púberes com frases decoradas. Na reformulação feita por Moore, Marvel Man (Jack Marvel, quando publicado pela primeira vez no Brasil, e Miracleman, na nova versão - tanto aqui quanto nos EUA) fazia parte de um projeto secreto do governo britânico, que visava unir super-seres criados artificialmente, a humanos controlados pelo estado. Isso era possível enviando estes seres para um micro-universo paralelo, e ligando-os psiquicamente aos humanos-cobaias. Um gatilho mental (uma palavra mágica como "shazam", ou no caso de Marvel Man, "kimota") permitia os alter-egos trocarem de lugar temporarimanete, transferindo-os de uma realidade para a outra. Para maior controle sobre estes "super-soldados", a alternativa encontrada foi criá-los dentro de uma realidade virtual, onde se viam no papel de super-heróis.
uma década depois, a DC lançou seu selo de quadrinhos adultos, com séries como Hellblazer e Livros da Magia. Numa mini-série cujo título não consigo lembrar, contava-se de uma Inglaterra opressiva, onde haviam olhos e ouvidos da Rainha por todos os lados, e tanto a Rainha quanto a própria realidade não passavam de uma simulação criada por uma máquina fantástica (e quase mítica), chamada computador.
O próprio Morpheus pode ser uma clara referência aos quadrinhos (fonte da qual os irmãos Larry e Andy Wachowski nunca negaram beber) de Sandman, que personifica todo o universo dos sonhos.
Neo, por si só, é o arquétipo do super-herói. Começando por seu nome (ou "nickname", codinome, whatever), um anagrama de "one", um, ou "the one", o escolhido, etecetera. Um homem comum, escolhido entre tantos outros para se tornar um campeão e lutar por um mundo melhor. Todos os acessórios estão lá: máscara (óculos escuros), capa (sobretudo), habilidades sobre-humanas e uma missão digna.
Ouviu-se o tilintar de moedas, poucos segundos antes que três homenzarrões, já com os rostos avermelhados de tanto beber, se jogassem ao chão para disputar os pedaços de metal.
- Peguei! - gritou um deles, o maior de todos, um moreno de camisa regata, exibindo quase com orgulho um amontoado de gordura para fora das calças - a tão conhecida barriga de cerveja. Mal pôde exibir o troféu, no entanto, pois logo sentiu uma mão empurrá-lo novamente de encontro ao chão.
Desta vez, o vencedor era um tanto magro, mas tão alcoolizado quanto todos os outros. Talvez num lapso de sobriedade, colocou o espólio no bolso da calça surrada, antes que algum valentão tomasse uma atitude igual à sua.
- Do jeito que as coisas andam... Caiu na rede, foda-se se é peixe ou camarão, o que importa é que é meu. - disse o magricela, com um sorriso bastante provocador.
Na mesa mais próxima, Adelso, tão inchado que parecia prestes a explodir, ria da contenda e esnobava a quem pudesse ouví-lo:
- Eu xô rico! Num prixiso bigá pur migálhax. É só puxá a cart... cart... a carteira... e mandá trajê maix uma.
- Só me ixprica uma cousa... - interpelou nesse instante Olimar, seu vizinho e eterno parceiro de copo - Si tu táx cum esssha bola toda... Pusquê tu trampa di pedrêro?
- Ah, issssho é fácil di ixpricá! É pá num prexisá di acadimia! Esssssis marmanjão aí torram uma dinherama malhando, e eu fico im forma só carregando xiiii-mento.
A gargalhada foi geral. Por mais bêbados e amigos que fossem, todos sabiam que Adelso bebia não porque podia, mas porque precisava. Querendo dar o golpe do baú, casara-se com uma mulher muito mais velha, e também muito mais insuportável. As doenças venéreas que passou a ela durante esses anos todos eram uma boa vingança, mas não boa o suficiente para justificar o tempo que vinha suportando a "velha", como a chamava (quando esta não estava por perto, claro). Cristina, filha dos dois, poderia ser um motivo para permanecerem juntos, mas Adelso previa que a mesma facilidade com que abandonou a filha de seu primeiro casamento (hoje com quinze anos) se aplicava no caso de Cristina.
No momento em que repetia a listagem de seus imóveis para inveja dos colegas, sua sogra (que podia ser tão velha quanto a filha, só não era boba) assinava os últimos papéis que passavam todos os seus bens (que seriam herdados pela "velha") para o nome da neta. Mesmo a casa onde os três moravam, não poderia ser vendida antes que Cristina completasse dezoito anos, o que demoraria no mínimo uma década.
Uma década para Adelso pôr as mãos na fortuna que sonhava ter. Com diabetes, hipertensão, os mais diversos problemas cardíacos e cada vez mais roxo de tanto beber, Adelso não aguentaria a espera dos primeiros dois anos.
As coisas aconteceram numa sequência estranha... Célia conseguiu folga no sábado, e veio feliz me avisar que íamos poder sair na sexta-feira à noite. No início da minha primeira aula, Karine estava tão bêbada que quase me agarrou no meio da sala. Completando o ciclo de bizarrices, o "punheteiro" voltou a aparecer. Já na semana anterior o mesmo cara, com seus quarenta e tantos anos, tênis e samba-canção, havia sentado em frente ao colégio pra, digamos assim, "aliviar as tensões". Pedi pra chamarem a Ariana, pra ver se ela reconhecia o cara (apesar que eu já sabia que era exatamente o mesmo) e acho que ele viu quando acenei pra ela e bati uma punheta no ar tentando fazê-la entender a que eu me referia. Ele se levantou envergonhado, levou a bicicleta até o ponto chic e lá sentou de novo, pra continuar o "ritual". Bom... Se ele aparecer mais uma vez, corro até a praça e chamo o primeiro policial que eu avistar. Sabe-se lá o que ele vai querer aprontar quando se cansar de ficar só na auto-bolinação. Vai que ele resolve de querer fazer algo com as meninas... Esse tipo de gente me dá nojo e medo ao mesmo tempo.
Retomando a narrativa anterior: cheguei em casa e a Célia estava no décimo-quinto sono. Ela só iria acordar por completo às duas da tarde de sábado, pedindo mil desculpas, sem acreditar quando eu dizia que estava tudo bem. Disse que ia me compensar com uma tarde a dois. O grande problema, no entanto, é que eu já tinha planos para o sábado. Às três horas eu me reuniria com o Giuliano e o Gê Nascimento, pra falarmos sobre a Cooperativa e outros projetos quadrinísticos. Acabei chegando atrasado, quase às cinco, e por isso demorei por lá mais ainda, voltando para casa quase às oito, e destruindo as chances de alguma atividade com a Célia. Ela, aliás, só faltava soltar fumaça das orelhas, para melhor ilustrar a raiva que sentia quando cheguei. Acabei tendo de engolir meu orgulho e, para compensá-la, fui dormir com ela na casa dos meus sogros. Porém, não saí do quarto, não falei com ninguém e só comi alguma coisa por insistência (grosseira, quase) da Célia. como diz a minha mãe, não nego ser filho de quem sou.
Voltei para casa no domingo. Minha mãe lia "Que as armas não falem", e era só elogios ao livro. Depois de alguns minutos, finalmente caí em mim e perguntei:
- Ei! esse não é o livro do pai do Averon?
- É. Ele mesmo.
- Hmmm... Depois deixa eu ler?
- Claro. Aliás, estou pensando em entrevistá-lo pra minha pesquisa. Se é que ele vai me conceder a entrevista, claro...
- Ah... Sem problemas, acho que o pai dele gosta de mim... Ele até lê o meu blogue de vez em quando! Depois eu falo com o Averon.
Pouco depois disso, minha avó ligou. Dizia que o Ilhan pretende viajar, e por isso a Fernanda (que não quer ficar sozinha com a filha) estava enviando duas passagens de ida e volta, para a minha avó e um acompanhante. A princípio, iria a Lúcia, pois é importante que vá alguém que fale inglês, para minha avó não ficar perdida por lá. Mas como a Lúcia não pode se ausentar esse tempo todo do Tribunal, minha avó fez questão de convidar minha mãe, ou algum dos filhos dela (queria oferecer a oprtunidade a alguém que nunca havia ido para lá - e não é segredo que nós aqui em casa somos os únicos da família sem dinheiro para bancar uma viagem dessas). Infelizmente minha mãe tem compromissos com os alunos da catequese e seu projeto de doutorado. Eu e meu irmão temos aula, sem falar que eu estou com o tempo cada vez mais escasso para me preparar para o vestibular. Duas semanas em Nova Iorque me fariam "gozar colorido", como diz o Averon, mas não vai dar mesmo. Sem falar que dificilmente eu conseguiria ajeitar a documentação (passaporte, visto, etc) a tempo, já que a viagem é logo na semana que vem.
Estávamos ainda rindo, eu e meu irmão (que batia o pé acreditando que podia mesmo perder duas semanas de aula - apesar de já estar quase com o ano letivo perdido) quando a Célia ligou. Estava no Hospital Universitário, com uma forte enxaqueca, e pediu que eu fosse para a casa dela. Já desde manhã ela não passava bem. Havia vomitado muito durante o trabalho. Insisti que ela pedisse um atestado ao médico, pois se não estivesse melhor no dia anterior, dane-se o tempo em que ela está no emprego, ela não iria e pronto. E não foi. Graças a Deus hoje ela parece um tanto melhor, e pretendo voltar para lá depois da aula. O clima naquela casa parece estar melhorando um pouco, depois da terrível notícia (no domingo, pouco antes do almoço) de que o irmão do meu sogro havia falecido. A ironia da Célia volta aos poucos, assim como os resmungos do meu sogro, o que significa que em alguns dias ambos já estarão ótimos novamente. De qualquer forma, espero que ela não tenha de perder outro dia de trabalho.
Putarias!
Passei da vetorização pra colorização. Tô começando, bem mal das pernas (como deu pra ver no desenho de Raio Negro e Velta, do Marco), mas aos poucos eu pego o jeito. Vai demorar muito até que eu me sinta seguro, por exemplo, pra colorir uma página de HQ. Enquanto isso, venho treinando com umas ilustrações eróticas do Watson Portela. Como isso é um blogue de família (hahahahah, ai... huhuuhu... a quem eu tô querendo enganar?), dei uma "censurada" nas imagens. Assim, só vê as putarias mesmo quem quer :) e assim ninguém se ofende (se bem que eu acho pura milonga essa gente que diz que se ofende com sexo. Putaria é bom e todo mundo gosta. Até Deus - que vive fodendo a gente).
Segunda-feira pela manhã, minha mãe acordou com o técnico da TVA batendo à porta.
- Olá. Eu vim pra desconectar a sua tevê a cabo.
- Peraí! Mas venceu dia dez. Eu tenho trinta dias pra pagar, com os juros.
- Nós mudamos as regras. Agora nós damos um prazo máximo de dez dias para o cliente.
- Ah, é? Tá bom. Pode desligar.
Uma ligação para a NET revelou uma promoção especial com o pacote advanced (com os seis telecines) sem taxa de adesão, um ponto extra grátis e mensalidade mais barata que a TVA. No dia seguinte acordei com os técnicos arrastando cabos de um lado para o outro.
Claro que Murphy impera, e alguma coisa tinha de dar errado. Foi só ligar o meu conversor, esperar uns quinze minutos e perceber a merda. A televisão dava estalos, distorcia a imagem, e o som sumia. Eu desligava o conversor, ligava de novo, e em cinco minutos (às vezes bem menos) acontecia o mesmo. Minha mãe ligou para a central e lhe disseram que tinham de esperar que os técnicos retornassem, pra então enviar um "reforço de sinal" para o ponto.
Por volta de umas nove horas, Célia ligou para lá, e a atendente informou que a ligação custaria um real. Mixaria, sem problemas, apenas estranhamos por se tratar de um número 0 800. Por cinco minutos, tudo pareceu bem. Cerca de uma hora depois, eu mesmo liguei de volta. Novamente, um real pela ligação. Dessa vez, porém, a atendente me informou que ia fazer uma bateria de testes que custaria CINCO reais, mas só seria cobrada se fosse bem-sucedida. Achei um absurdo, claro, mas concordei: mesmo que funcionasse, era só dizer que não havia acontecido nada. De qualquer modo, não funcionou, e a atendente agendou uma visita para quinta-feira de manhã, que custaria TRINTA E UM reais. Recusei, e mandei cancelar. A atendente me pediu para esperar e me informou que havia consultado sua supervisora sobre a suspensão desta cobrança, mas que era impossível por constar no meu plano de assinatura. Perdi um pouco o controle, mandei cancelar tudo e esquecer, que no dia seguinte eu ligaria para falar com qualquer supervisor que fosse, e se não resolvesse, iria ao procon. Novamente ela me pediu para esperar. No quinto minuto de espera, desliguei o telefone, irritado.
Mais alguns minutos se passaram e o telefone tocou novamente. Era a mesma atendente, simpatissíssima, confirmando a visita de quinta-feira, sem taxa alguma a ser cobrada.
Admito: se fosse a TVA, no mínimo eu esperaria umas duas semanas (como já aconteceu). Ainda assim, os fornecedores de tevê a cabo, ao que parece, são um grande bando de filhos da puta, sem excessão.
Inestimável, grande amigo de Baixa Estatura, apaixonara-se por A Que Faz Os Outros Felizes desde muito cedo. Via-a sempre na casa de Baixa Estatura, de quem era prima. Após anos sem que ela sequer notasse sua existência, finalmente Inestimável conquistou o coração de Aquela Que Faz Os Outros Felizes. Ativa Trabalhadora, mãe de Inestimável, não aprovou a união, assim como as irmãs de Inestimável, Senhora Graciosa e Garoa do Céu.
Marcou-se o dia do casamento. Inestimável trajava uma manta rosada, que combinava com os delicados detalhes do vestido de A Que Faz Os Outros Felizes. Lobo do Conselho, o orgulhoso pai de Inestimável, foi impedido pela esposa e filhas de comparecer à cerimônia. Sentado à cama, em sua noite de núpcias, Inestimável chorou baixinho, escondido, pela falta que Lobo do Conselho lhe fez. Alguns meses depois, Lobo do Conselho, que já estava doente à época do casamento, veio a falecer, sem conhecer nenhum dos netos que Inestimável lhe daria.
Estes netos, aliás, cresceram fortes e determinados. Ativa Trabalhadora havia dito entre as famílias tradicionais que A Que Faz Os Outros Felizes havia apressado a união por já carregar no ventre uma criança de Inestimável. Para descrença de sua história, Alegria, a primeira de três, só veio a nascer três anos depois, seguida por O Que Gosta de Cavalos, após mais um par de anos. O último, Príncipe Poderoso, veio oito anos à frente, quando A Que Faz Os Outros Felizes já imaginava não poder mais dar um novo filho a Inestimável.
Alegria cresceu para se tornar uma mulher bonita e inteligente, de língua ferina e pouco moderada. Uniu-se com Amado, e com ele mudou-se para além das montanhas. O Que Gosta de Cavalos teve uma vida libertina até conhecer Montanha de Roma - que carregava em si a força de seu nome, mas ao contrário dele, era de aparência frágil e graciosa. Filha de Luz e O Rio Que Corre o Mel, Montanha de Roma era a terceira de cinco. Antes dela vinham Querida de Deus e A Bela, e depois, seguiam Fazendeira e Riacho Que Corre O Mel.
A Que Faz Os Outros Felizes, viúva de Inestimável a oito anos no dia em que O Que Gosta de Cavalos conheceu Montanha de Roma, aos poucos viu os filhos irem embora, seguirem seu próprio caminho pelo mundo, como ela mesma havia feito anos antes, quando abandonara seus pais Presente Dos Deuses e Bom Conselheiro. Vendo o único que lhe restara, Príncipe Poderoso, crescer mais rebelde e independente que todos os outros, sentou-se à beira da cama e suspirou, prevendo o dia em que ficaria sozinha. Naquele momento, sentiu imensa saudade de Inestimável.
Um encontro interessante...
Talvez, em alguns meses, numa comic shop perto de você.
(desenho de Marco Santiago, cores por este que vos escreve)
Blogue abandonado por uns tempos. Motivo: eu queria esfriar a cabeça, pra não ser injusto com ninguém. Resultado: falho.
A situação que surgiu é das mais chatas. Achei que tivesse criado um posição onde a família da Célia pudesse falar abertamente comigo sobre qualquer coisa. Estava enganado. Ou talvez comprove-se a teoria de que eles precisam sempre de uma desculpa nova pra incomodar. O fato é que depois de quase dez meses namorando com a Célia, dez meses em que ela praticamente não saiu daqui de casa, por insistência minha; em que quem paga os remédios dela sou eu; em que quem compra roupas pra ela sou eu; em que quem prepara a comida dela sou eu; em que quando ela precisa de uma calça para procurar emprego, quem tem de ir com ela comprar sou eu; depois desses meses todos, resolveram me tirar pra vagabundo e soltar a absurda milonga de que estão me sustentando.
Claro! Eu almoço lá duas vezes por semana, se tanto, e assisto tevê enquanto espero a Célia voltar. Vejam só o prejuízo que eu causo. Se não fosse por estes dois pratos de comida semanais eles já estariam de carro novo e com a casa terminada. Óbvio, só não percebe quem não quer.
Claro que há os pequenos detalhes, como o pai dela comprar um celular de oitocentos reais para ele, um celular de setecentos reais para a esposa, e andar de um lado para o outro reclamando como todos naquela família estão miseráveis e falidos. Como a irmã dela ter trabalhado uma única vez na via (a carreira de modelo, em que ela trabalhava por convites de festa, eu nem considero aqui), por uma mixaria, e ainda assim ter sempre uma roupa nova, enquanto que o irmão mais novo das duas anda pela casa feito um mendigo - com as calças acima das canelas e as camisas mal cobrindo a barriga. Detalhes, como eu disse, sem importância alguma. Como o fato do cartão do banco passar mais tempo na bolsa da irmã da Célia que nas mãos da proprietária dele - a mãe dela. E ainda assim se aceitar o desparate da irmã dela dizer que tudo o que tem comprou com o próprio dinheiro. Cegueira ou estupidez? Nem um nem outro. Detalhes, como eu disse, sem importância.
Fico pensando no namorado horrível que sou, e como eles têm razão de achar que não sou a pessoa certa para a Célia. Afinal, faço questão de ver a Célia todos os dias, beijá-la o tempo todo, repetir incansavelmente o quanto a amo; enquanto Renato, o genro perfeito, faz planos pra se mudar para os Estados Unidos e trabalhar como pedreiro (e só a namorada dele ainda não quis aceitar que ele não pretende voltar). Minha mãe vive de pensão, ó coitada, enquanto a família do Eduardo (não preciso entrar em de talhes sobre quem é o entojo) vivia sentada na grana. Minha mãe criou os filhos errado, disse a minha sogra. Tão errado que este filho que aqui escreve sempre fez questão de aproximar as duas famílias, de fazer com que se conhecessem, conversassem. Enquanto que a família do dito entojo os investigava na polícia militar e desejava que o filho arrumasse uma namorada de uma família "melhor".
Desculpem-me o desabafo cheio de rancor, mas fato é, se nesses dias todos eu não consegui tirar isso da cabeça, é porque o que aconteceu foi mais sério do que os envolvidos admitiriam. Estou cansado de receber ligações da Célia chorando por culpa da família dela. Estou cansado de ter de engolir os desaforos do pai dela com a desculpa de que ele está cada vez mais velho. Me irrito cada vez mais com a postura arrogante da mãe dela, que jamais admitirá que é menos perfeita que todas as outras pessoas.
Meu sogro, aliás, logo que me conheceu, me disse: "não precisa gostar de mim, só tem que cuidar direito da minha filha". Ouvir aquilo me fez tamanho bem - saber o quanto aquela família se preocupava com a minha namorada - que me criou um desejo gigantesco de provar que eu podia não só tratá-la melhor que qualquer outro já havia feito, mas também tratar muito bem a família dela, e conquistar o afeto de todos. E eu consegui. Ir para a casa da Célia muitas vezes valia a pena só pela companhia dela, mas a presença de sua família sempre foi um bônus agradável. Conversar de política e religião com a mãe dela (fui o primeiro a conseguir conversar essas coisas com ela e, principalmente, a gostar), jogar videogame e assistir anime com o irmão dela, cozinhar e falar mal da vida alheia com a irmã dela, quase matar a tia dela de cócegas, e sempre ter uma nova provocação na ponta da língua para competir com o pai dela.
Apesar de todo esse carinho, hoje não me preocupo em dizer que não pretendo voltar a pisar naquela casa. Ao menos não tão cedo. Minha mensagem é pura e simplesmente: não tenho obrigação de gostar deles, faço-o porque quero. Mas posso repensar a idéia. Tampouco me importo com o que pensam de mim, aliás, não dou a mínima pro que pensam de mim. A opinião deles não tem importância alguma, a única opinião válida é a da Célia. E ela, eu sei o quanto gosta de mim, do jeito que sou. Ela e o Júnior, meu jovem cunhado. Me dói o coração pensar em como vem sendo tratado naquela casa.
Eu sempre fiz o possível pra me manter imparcial nestes assuntos. Os problemas da Célia com a família dela são só dela própria. A minha função, não só como namorado mas como grande amigo (que insisto em ser) é a de segurar o rojão desse lado, oferecer um ombro para o choro, e propiciar momentos onde ela possa sorrir e esquecer das mágoas que lhe infligiram. Tomar partido é um erro costumeiro que só traz maiores complicações. A família é uma cruz que cada um carrega sozinho. Mas a atitude da família dela, desta última vez, foi de uma hipocrisia tamanha, que eu não pude ignorar. Principalmente porque foram feitas acusações a mim e à minha mãe, pelas nossas costas, quando não faltaram oportunidades que me dissessem cara a cara o que realmente pensavam de mim.
É uma pena, realmente. O bônus se tornou um incômodo.
De vez em quando minha mãe resolve mandar o bom senso às favas e diz: "Quer saber? Nós temos crédito! Então vamos comprar tudo que a gente paga depois!"
Hoje foi um dia desses. Saiu de casa de manhã e voltou cheia de panelas, pratos, copos, xícaras, uma cafeteira, uma sanduicheira, um ferro de passar novo... E mais sacolas e sacolas.
No início da semana eu havia sugerido de ir com ela nas Americanas pra comprarmos alguns jogos de tabuleiro. Presente de dia das crianças para a família toda. O tipo de coisa que salva a vida da gente quando não se tem muitas opções numa sexta-feira à noite e amigos não faltam a nos ligar. Ou simplesmente a consumação desta minha nova obsessão por jogos de tabuleiro. Que seja. Decidimos ir logo depois do almoço e comprar uns dois ou três jogos. Pra quê?
No total, juntando as compras matutinas e vespertinas, foram dezessete CD's (a maioria por R$9,90). Além dos jogos Scotland Yard e Can Can, o meu tão desejado conjunto para fondue, e uma assinatura da Super Interessante.
- Fazendo a assinatura, você só vai pagar cinco vezes de dezessete reais, que é o custo reduzido de assinatura, que inclui embalagem e postagem. Além disso, você vai estar me dando três pontos. Quando eu completar trezentos pontos, a Abril paga a mensalidade da minha faculdade, que tá atrasada. - disse o cabeludinho disléxico que ofereceu a assinatura e nos encheu de revistas como brinde.
- Faltou só uma playboy aqui no meio. - eu disse para minha mãe, ao sairmos da loja.
Como já era de se esperar, o limite da Facillita estourou, e tivemos de pagar com cheque para quarenta e cinco dias. Pra piorar as coisas, foi preciso cancelar toda a compra (só a da tarde, pelo menos isso) e passar os produtos um por um outra vez. Na hora de fechar, a conta deu cinco reais mais barata. Remexemos nas sacolas, procurando algo que pudesse ter sido esquecido, mas desistimos. Na saída da loja lembrei dos dois picolés que chupamos enquanto a moça passava tudo pelo caixa, e que obviamente não existiam mais na segunda vez. :P
É engraçado pensar que quase todas as revistas que ganhamos me servirá de alguma coisa. Claudia, por exemplo, vai voando para as mãos da patroa. Sem falar que estas revistas femininas são bastante necessárias para quem pretende fazer Moda na UDESC (como eu e a Célia). A mesma finalidade terá a Caras, que vem com um encarte sobre SP Fashion Week. Quatro Rodas vem a calhar, já que estamos cogitando adquirir um carro fim do ano. Super Interessante tem uma matéria sobre Abraão que eu comecei a ler na casa da Célia e nunca terminei. Enfim... Leitura semanal garantida.
Vamos aos jogos. Hoje foi o meu dia. Abrimos a caixa de Can Can e foi uma lavada. Seis a zero e ainda assim meu irmão insistia. Chegou a demorar meia hora embaralhando o maço de cartas, para garantir que eu não ganhasse outra vez. Mas nem adiantou...
A grande "nêga" foi com Jogo da Vida, versão "improváized". Só restam três carrinhos e nenhum pino. No lugar da roleta, faz muitos anos que usamos um dado de dez faces. Baixei as regras na internet (perdi-as sei lá quando) ontem e imprimi alguns cartõezinhos que auxiliam na substituição dos pinos. Deu pra jogar bem. Meu irmão nem quis terminar o jogo. Paramos na metade umas três vezes, e ele estava sempre devendo ao banco mais do que seria possível recuperar.
Dos dezessete CD's comprados, catorze são da minha mãe. Metade deles eu vou acabar roubando para mim, de qualquer jeito. Além deste, comprei um aleatório do Alice in Chains para o meu irmão, e aleatórios de Frank Sinatra e Edson Cordeiro (um de cada, claro) para mim. Se bem que Edson Cordeiro é mais para a Célia (assim como vou roubar os da minha mãe, sei que a Célia vai roubar este de mim. Isto se não roubar os dois).
Natal vai ser a pão e água, pelo jeito...
Quando surgiram as primeiras imagens de Star Wars: Episódio I, fãs do mundo todo tremeram na poltrona com a frase "Toda saga tem um começo". Curto, grosso, e maravilhoso!
Quando a Marvel anunciou Origem (que conta a juventude do herói Wolverine à la Jardim Secreto), a frase "Todo herói tem uma origem" já não surtiu o mesmo efeito, mas as imagens de divulgação ajudavam a criar uma ansiedade.
Agora surge Matrix Revolutions, em seus primeiros pôsters, trailers, etecetera... E a frase: "Tudo que tem um começo tem um fim". Chinfrim. Batido. Sem graça.
Cadê a criatividade dessa galera?
Em De Volta para o Futuro, Marty McFly diz a Doc Brown que o presidente em sua época é Ronald Reagan. O cientista pergunta: "O Ator?"
Em O Demolidor (Demolition Man, não confundir com Daredevil), o personagem de Stalonne se surpreende da mesma forma, quando a personagem de Sandra Bullock lhe fala da "Biblioteca Schwarzenegger", e explica que o ator se tornou presidente dos EUA.
Essa piada faz parte de uma antiga brincadeira entre os dois atores, que volta e meia inserem paródias um ao outro em seus filmes, como em O Último Grande Herói, em que Stallone é mostrado no cartaz de Exterminador do Futuro.
Às vezes o cinema parece bastante, até... profético.
Ontem foi um dia bastante agradável, hoje foi um dia de azar.
Ontem acordei cedo, vi a manhã linda que já havia surgido, e saí para caminhar com a Célia.
Hoje acordei semi-gripado, com uma terrível dor de cabeça e a sensação de que havia sido atropelado por um rolo compressor.
Ontem saí pelo centro para aproveitar a tarde, encontrei o Robô, Aline e Papioula no centro e tomei algumas (várias) cervejas.
Hoje encontrei minha mãe no terminal de Santo Antônio de Lisboa indignada porque mudaram os horários dos ônibus e ela teria de esperar quatro horas pelo próximo Daniela.
Ontem fui para a casa de praia curtir um programa leve em três casais, uma garrafa de vodka, seis latinhas de coca-cola e muitas risadas.
Hoje fiquei totalmente perdido ao ver a Papioula chorando porque tínhamos pego o ônibus errado para o centro e ela chegaria atrasada no emprego.
Ontem acordei a vizinhança de tanto rir, depois de ver o Renato e o Robô apanharem de suas respectivas namoradas, quase terem de dividir um sofá, e ainda ter de presenciar a mórbida cena do Robô vomitando as tripas por ter se engasgado com o cigarro.
Hoje não vi graça nenhuma em ver vários ônibus passarem por nós no ponto em que estávamos, sem que nenhum desses ônibus parar, por serem "diretos" ou "semi-diretos".
Ontem me surpreendi com a teoria conspiratória internacional da Aline e Papiuola, que insistiam que Robô e Renato haviam tramado juntos o falso desaparecimento de Renato.
Hoje quase cuspi o coração no colo da minha mãe quando o ônibus (dessa vez, o certo) começou a engasgar e ameaçou enguiçar na subida após o terminal de Santo Antônio.
Resumindo: ontem rolou muita cerveja, algumas cubas, putarias, muita fofoca, briga de marido e mulher, gemidos e gritos, muita risada e a reconciliação mais cômica que eu já vi. Hoje gastamos dinheiro à toa, minha mãe não pôde dar aula de catequese e acabou nem almoçando, a Papioula chorou o que podia e o que não podia, e tomamos um susto após o outro.
Daqui a pouco preciso me arrumar para um churrasco na casa do Robô. Mas ñão sei se é boa idéia sair de casa...
Blair Underwood (de Regras do Jogo) interpreta um ator, que interpreta um ator, que interpreta o parceiro negro de Brad Pitt num filme não-identificado. Isso é apenas uma das caracterizações confusas de Full Frontal, de Steven Soderbergh, e exemplo de uma tendência mal-interpretada que vem sendo chamada de meta-linguagem.
Na verdade, "vem sendo chamada" não seria a expressão correta. A meta-linguagem é um conceito conhecido a muito tempo, presente inclusive nos escritos de Machado de Assis e em "Samba de uma Nota Só", de Newton Mendonça. É quando a linguagem assume a característica de voltar-se para si própria, a linguagem da linguagem. Em termos artísticos, "designa toda situação interna a uma obra em que se torna explícito haver um criador e/ou um receptor dessa obra". (1)
No caso desta "tendência" cinematográfica, pode-se dizer que o uso da meta-linguagem se dá sempre que autor e obra se confundem, ou mesmo quando há algum mecanismo que emule uma intimidade entre autor/personagem e o espectador. A Rosa Púrpura do Cairo, de Woody Allen é um bom exemplo de ambos os casos. A personagem assiste várias vezes ao mesmo filme, também chamado "A Rosa..." (a obra dentro da obra), "até que o personagem da tela a vê e a convida para entrar em seu mundo de fantasia". (2) Ficção e realidade misturam-se de uma forma que, nas mãos de cineastas inovadores como Soderbergh e Spike Jonze (de Adaptação), às vezes é necessário grande esforço para diferenciar um de outro.
O trailer de Full Frontal, infelizmente, causa uma impressão completamente errônea do filme. Em tom de comédia, o narrador anuncia-o como "Um filme que mostra a verdade dos bastidores de Hollywood", frase que me obriga a pensar de imediato em programas sensacionalistas e de gosto duvidoso que exploram a intimidade dos artistas. Pessoas que esperam por este tipo de situação se sentirão desapontadas. Comercialmente (e em minha humilde opinião) falando, o filme é chato. Uma narrativa lenta, um trabalho de edição aparentemente sem grandes cuidados, ausência de artifícios para passagem de tempo ou alternância de cenas, e trilha sonora inexistente. Assistir acompanhado é pedir para ouvir a pessoa ao lado roncar após os primeiros vinte minutos de filme (como aconteceu comigo).
Mais do qualquer coisa, é um filme experimental. Algo um tanto engraçado de se pensar, vindo de um diretor que emplacou sucessos como Erin Brockovich, Traffic e Onze Homens e um Segredo. Eu definiria como um "filme de fim de semana" (apesar de ter sido rodado em um espaço um pouco maior de tempo, mas ainda assim ridículo: dezoito dias). Soderbergh brincou com câmeras digitais sem se preocupar muito com o resultado, chamou vários amigos para "brincar" (os atores trabalharam de graça, sem cabeleireiros, maquiadores, e sem quase suporte técnico algum - tudo em nome da amizade e da brincadeira), gastou pouco mais de dois milhões de dólares e produziu um agradável aglomerado de histórias paralelas sobre pessoas semi-reais, quase palpáveis, que só parecem atingir um "lugar-comum" (ou não) nos últimos minutos do filme.
São histórias dentro de histórias, e pequenos momentos que parecem inúteis e acabam só deixando o espectador mais confuso. O típico filme oito ou oitenta, que uns gostam e outros odeiam. Mais para oitenta, pois é uma memorável façanha juntar em uma mesma sala mais de duas pessoas que tenham visto o filme e realmente gostado.
1 - Sérgio Barcellos Ximenes - Metalinguagem? Do tempo da vovozinha...
2 - Thaís Nicoleti de Camargo - Resumão/português - A metalinguagem, Folha de São Paulo, 05/12/2000