Ouviu-se o tilintar de moedas, poucos segundos antes que três homenzarrões, já com os rostos avermelhados de tanto beber, se jogassem ao chão para disputar os pedaços de metal.

- Peguei! - gritou um deles, o maior de todos, um moreno de camisa regata, exibindo quase com orgulho um amontoado de gordura para fora das calças - a tão conhecida barriga de cerveja. Mal pôde exibir o troféu, no entanto, pois logo sentiu uma mão empurrá-lo novamente de encontro ao chão.

Desta vez, o vencedor era um tanto magro, mas tão alcoolizado quanto todos os outros. Talvez num lapso de sobriedade, colocou o espólio no bolso da calça surrada, antes que algum valentão tomasse uma atitude igual à sua.

- Do jeito que as coisas andam... Caiu na rede, foda-se se é peixe ou camarão, o que importa é que é meu. - disse o magricela, com um sorriso bastante provocador.

Na mesa mais próxima, Adelso, tão inchado que parecia prestes a explodir, ria da contenda e esnobava a quem pudesse ouví-lo:

- Eu xô rico! Num prixiso bigá pur migálhax. É só puxá a cart... cart... a carteira... e mandá trajê maix uma.

- Só me ixprica uma cousa... - interpelou nesse instante Olimar, seu vizinho e eterno parceiro de copo - Si tu táx cum esssha bola toda... Pusquê tu trampa di pedrêro?

- Ah, issssho é fácil di ixpricá! É pá num prexisá di acadimia! Esssssis marmanjão aí torram uma dinherama malhando, e eu fico im forma só carregando xiiii-mento.

A gargalhada foi geral. Por mais bêbados e amigos que fossem, todos sabiam que Adelso bebia não porque podia, mas porque precisava. Querendo dar o golpe do baú, casara-se com uma mulher muito mais velha, e também muito mais insuportável. As doenças venéreas que passou a ela durante esses anos todos eram uma boa vingança, mas não boa o suficiente para justificar o tempo que vinha suportando a "velha", como a chamava (quando esta não estava por perto, claro). Cristina, filha dos dois, poderia ser um motivo para permanecerem juntos, mas Adelso previa que a mesma facilidade com que abandonou a filha de seu primeiro casamento (hoje com quinze anos) se aplicava no caso de Cristina.

No momento em que repetia a listagem de seus imóveis para inveja dos colegas, sua sogra (que podia ser tão velha quanto a filha, só não era boba) assinava os últimos papéis que passavam todos os seus bens (que seriam herdados pela "velha") para o nome da neta. Mesmo a casa onde os três moravam, não poderia ser vendida antes que Cristina completasse dezoito anos, o que demoraria no mínimo uma década.

Uma década para Adelso pôr as mãos na fortuna que sonhava ter. Com diabetes, hipertensão, os mais diversos problemas cardíacos e cada vez mais roxo de tanto beber, Adelso não aguentaria a espera dos primeiros dois anos.

0 Comments:

Post a Comment




 

Copyright 2006| Blogger Templates by GeckoandFly modified and converted to Blogger Beta by Blogcrowds.
No part of the content or the blog may be reproduced without prior written permission.