Quanto mais as coisas mudam, mais permanecem as mesmas. Snake Plissken sabia das coisas. Se bem que John Carpenter podia ter cortado fora aquela ceninha do surf tsunâmico. "Até que eles fizeram umas animaçõezinhas boas pra época", eu falei pra Célia depois das cenas de terremotos e etecetera, dos tempos em que eles pensavam que 1998 era um futuro distante.
A um bom par de anos atrás fiz a bobagem de me mandar pra uma festa com o virus. Encontrei um pessoalzinho que eu não curtia e que, surpresa, também não me curtia muito. O Virus acabou ficando puteado comigo, porque enchi a cara e fiz ele passar vergonha na frente da garota que estava afim. Com razão. Ela passou uma hora pelo menos me dizendo que eu parecia cupido de jardim de infância, insistindo sem parar que os dois se beijassem. Quanto mais as coisas mudam, mais permanecem as mesmas. Aquele dia voltei abojado no carro do Tatato. Naquele dia ela bateu o carro. Que bom que eu não dirijo.
Sábado o Virus apareceu na casa do Peace com uma garota. Apresentou como Danizinha. "Ei! Tu não é aquela mina que eu incomodei a noite toda na festa do Galera pra agarrar o Virus?", perguntei. Era a própria. "O casal mais lindo da internet", crinquei, me referindo a Virus e Averon. Virus pegou a menina pelo braço e disse: "casal lindo somos nós". É. Ele estava afim. De novo.
Lá depois das tantas a Célia sumiu. Se mandou com umas cinco ou seis mulheres pra praia, não me avisou, só deu tchau e nada mais. Quando achei que ela estava demorando demais - na falta de beijos - matei o tédio voltando a beber. Quando vi estava aquele caco que todos bem conhecem. O Virus deve estar puteado comigo (ele sempre acaba ficando puteado, pelo menos umas três vezes ao mês). A Danizinha deve estar rezando pra levar mais uns dois anos pra me encontrar de novo. O Averon, claro, deve estar morrendo de rir, como sempre. Voltei abojado no carro do Conrado, falando alto sobre o amigo do Shao que namorou uma puta. Sei lá como a Danizinha voltou. Quanto mais as coisas mudam, mais permanecem as mesmas.
De repente seria bom que eu fizesse uma pequena série de ligações. Ao Peace, pedindo desculpas por quase derrubar o barco. Seria meio difícil explicar porque eu queria passar por debaixo do barco e qual a relação disso com a fila do banheiro. Ao Varda, pra agradecer pela carona do irmão dele, e pedir desculpas por qualquer coisa estranha ou ofensiva que eu possa ter dito no carro. À Chuva, por ter dito que não gostava dela. À Kurt, não. Ela sabe que eu não gosto mesmo. Ao Virus nem adianta ligar. Ele ficaria horas falando sem parar, eu não entenderia metade, meus ouvidos inchariam, e de qualquer modo isso passa em uma semana ou duas mesmo...
* * *
PrEsUnToW> o virus tá muito puteado comigo? :P
Averon`In`Box> nah
PrEsUnToW> tem certeza? :P
Averon`In`Box> quer dizer. ta, mas é aquela putidão default de virus. acho q ele ñ se liga mto :P
PrEsUnToW> ou seja...
PrEsUnToW> na próxima vez q a gente for beber ele já esqueceu, neh? :P
Averon`In`Box> é :)
Averon`In`Box> na verdade ele vai passar a noite toda reclamando
Averon`In`Box> mas ñ vai deixar de beber com vc por isso :P
- Felipe Meyer
- Publicitário, redator e pseudo-quadrinhista. Ser humano do gênero masculino mais perto dos 30 que dos 20. Gestor de conteúdo do Jornal de Debates. Formado em Comunicação Social pela Faculdade Estácio de Sá de Santa Catarina. Casado, pai de uma linda coleção de revistas em quadrinhos, exilado de Florianópolis e tentando fazer a vida em São Paulo, na Auszuglândia.
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