- Cláudio! Amigo do peito!
- Sai fora! Amigo uma pinóia!
- Ué... Aconteceu alguma coisa?
- Aconteceu que eu não tô mais aguentando olhar pra essa sua cara de pau cheia de cupim.
- Ô, Claudião... Que que é isso? Cara de pau... eu?
- É! Você mesmo! Você é um falso do caralho!
- Por que você tá dizendo tudo isso? A gente sempre foi tão camarada...
- Eu! Eu fui seu camarada! Por muito tempo! Mas você só andava comigo por interesse!
- Poxa, Claudião... Como você pode dizer isso? Logo eu que sempre tive do teu lado no melhor e no pior!
- No melhor, talvez sim. Quando eu tinha carro do ano, dinheiro no bolso, e amigas pra te apresentar.
- E que amigas, hein...
- É esse o seu problema! Você só pensa em mulher! É só surgir um rabo de saia novo que você esquece dos amigos na mesma hora!
- Ah, Claudião... Vamos e venhamos... Amigo a gente vê toda hora. Mulher a gente tem de aproveitar quando aparece a ideal.
- Ah, é? No seu caso, a mulher ideal são umas cinquenta!
- Eu gosto de variar...
- A sua mania de galinha até dá pra suportar. Mas você me traiu em vários sentidos!
- Eu!?
- Sim, você! E pára com esse cinismo! Porra... A Nanda, cara... Como você pode fazer isso comigo?
- Que Nanda?
- Você sabe muito bem! A Nanda, minha noiva, a mulher da minha vida!
- Ah! Essa Nanda...
- Vai querer me dizer que não fez nada? Que tudo o que ela me contou foi mentira...
- Bom... Eu não sei exatamente o que ela te contou, mas...
- Que vocês me meteram um belo par de chifres na testa! Daqueles que nem com sombreiro dá pra esconder! Você tem noção do nojo que eu senti de vocês dois?
- Poxa, Claudião... Não é bem assim o negócio...
- É assim, sim! E pára de me chamar de Claudião!
- Tá bom... Cláudio. Eu juro que eu não tive culpa de nada! Ela chegou pra conversar, com todo aquele papo do dia estar chegando... Das dúvidas que ela tinha...
- E você, filho da puta, foi logo botando o pau pra fora!
- Não, Cláudio! Claro que não! A mina te ama, cara! Ela queria conversar, só... Ter certeza de que tava dando o passo certo. Sabe como é. Aí a gente saiu pra beber um pouco, desocupar a mente... E você sabe como a Nanda fica quando bebe.
- Agora a culpa é da bebida, é?
- Não! Claro que não... Aconteceu, Cláudio. Nenhum dos dois planejou aquilo. Mas sabe... Acho até que foi bom pra ela. Ter uma última experiência antes do casamento, com um cara que não é o futuro marido dela...
- Futuro marido é a puta que te pariu! Não vai ter casamento nenhum!
- Poxa, Cláudio... E o meu sonho de ser teu padrinho?
- Vai ser padrinho do corno do teu pai! Porra! Você não resiste nem à mulher do teu melhor amigo?
- Cláudio, cê não tá me escutando...
- Claro que tô escutando! Porra! Até a minha mãe e a minha irmã você comeu!
- Ah! Pode parar por aí! Não vem falar da sua irmã e da sua mãe!
- Posso saber por que não?
- Ué... Simples! Você vai comer alguma das duas?
- Deus! Não! Nunca! Que tipo de pergunta é essa?
- Então! Se você não vai comer, deixa de ser egoísta e libera pra galera!
- Escuta aqui, seu...
- Escuta aqui porcaria nenhuma! Quer saber? Vá se foder, também! Não dá pra conversar com você.
- Não dá pra... Comigo?
- É! Com um amigo como você é sempre assim: só crítica, crítica! Não sabe fazer um elogio, cumprimentar direito... Também agora quem não quer essa amizade sou eu!
- Ei! Peraí!
- Peraí o escambau! Fui-me!
- Ô, ô! Calma, rapaz! Volta aqui! Vamos conversar! Sou eu, o Claudião! Deixa eu falar...

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