Existem alguns filmes que você parece estar destinado a não ver. É exatamente o tipo de filme que todos viram, menos você. Você pode ter lido a respeito, assistido ao trailer anos atrás, na época do seu lançamento, mas por um motivo inexplicável, você não viu.
Na locadora, seja em vídeo ou dvd, você passa diversas vezes por ele, chega a pegar, pensar em levá-lo, mas coloca-o de novo na prateleira e aluga um relançamento de "Fist of The Dragon" com cenas inéditas de uma biografia amadora de Bruce Lee. Às vezes até dá pra justificar essa atitude. É um filme especial. Você não conhece bem a história, nã sabe exatamente do que o filme fala, mas sabe que é um filme especial. Daqueles que devem ser vistos em um momento especial - de preferência com alguém especial.
E então no momento menos especial da sua vida recente, o filme passa em um canal aleatório de televisão a cabo e você, esquecendo de todo o discurso anterior, diz "oba", deita-se na cama e isola-se completamente. Você não atende o telefone nem se dá ao trabalho de levantar para abrir a porta do quarto e deixar o cachorro - que chora e arranha a porta - sair.
Nem quando sua mãe lhe chama, com voz fraca, você dá atenção. Nõ posso, mãe, estou muito ocupado. É coisa importante.
Ela pede pra você chamar o seu irmão, e inclui um "estou mal" na frase, que em uma situação normal lhe deixaria preocupado, mas você ignora. Corre até a cozinha, passa pela área de serviço e puxa o seu irmão da frente do computador, correndo de volta ao seu quarto para não perder um minuto sequer do filme. E é só quando seu irmão lhe pede ajuda para carregar a sua mãe até o telefone, que você percebe a gravidade da situação.
Você tenta manter a calma. Tudo bem. Sua mãe está tendo um leve mal-estar. Você ajuda a levá-la para a sala, e disca os números que ela lhe diz. Mas ela está fraca até para pensar, e não consegue lembrar dos números. Você acende um cigarro para tentar se controlar. Corre ao computador, segurando as lágrimas e digita com pressa: "sos unimed". Você descobre o número. Corre para a sala, arranca o telefone das mãos de seu irmão, que protesta. Digita os dez números com impaciência, e começa a pensar. Bobagens, principalmente. Você pensa em quão egoísta é, em como pôde pôr a saúde da pessoa que mais ama nesse mundo de lado, por causa de um estúpido filme "cult". Tenta rezar, mas está nervoso demais para saber o que pedir. Pensa na pessoa para quem ligará, chorando, se algo acontecer. Cristiane, com certeza. Ela o odeia, você tentou odiá-la por um tempo, mas você não pensaria em outro ombro amigo numa hora como essas. Não um ombro próximo, como o dela. Você pensa nas horas que passou embaixo do chuveiro, chorando e rezando, pedindo pela vida dela três anos atrás, quando ela foi internada. Naquele momento, você não sabia ainda que algo havia acontecido. Mas você sentia. Ninguém precisou lhe dizer "sua mãe passou mal e foi levada ao hospital". Ela não estava em casa. Você tinha certeza de que algo havia acontecido... E é esta a mesma certeza que o fará ficar acordado a noite toda, hoje, observando sua mãe dormir, rezando e agradecendo a Deus por não tirar de você o bem mais valioso que já lhe foi dado.
- Felipe Meyer
- Publicitário, redator e pseudo-quadrinhista. Ser humano do gênero masculino mais perto dos 30 que dos 20. Gestor de conteúdo do Jornal de Debates. Formado em Comunicação Social pela Faculdade Estácio de Sá de Santa Catarina. Casado, pai de uma linda coleção de revistas em quadrinhos, exilado de Florianópolis e tentando fazer a vida em São Paulo, na Auszuglândia.
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