As pessoas têm me perguntado muito sobre esta minha decisão, idéia, plano, seja o que for, sobre parar de fumar. Não é promessa religiosa, não é medo de morrer, não é fundo do poço. Algumas pessoas (entre elas, eu, muitas vezes) esperam pelo momento, pela oportunidade, pelo dia perfeito, especial, para tomar uma decisão que vai mudar a sua vida, de preferência para melhor. Mas todo dia é um bom dia para virar sua vida do avesso e começar de novo. Todo dia é um bom dia para evoluir. Já tentei parar de fumar pra agradar alguma namorada ou pretendente, já tentei parar por culpa, por lembrar do mal que o cigarro causou às últimas três gerações da minha família (seja por parte de mãe ou de pai), tentei parar por promessa religiosa (paradoxal, já que não sou religioso), ou mesmo tentei parar quando doente, para não acabar piorando meu estado de saúde (o que também não surtia muito efeito, já que a abstinência algumas vezes era pior que a doença). Em nenhuma das ocasiões consegui resistir mais do que alguns dias.
Fumo desde noventa e oito. Comecei com cigarros de filtro amarelo, pulei para os cigarros de bali por um mês ou dois, e voltei aos cigarros de filtro amarelo. Pra simplificar, posso dizer que sou adepto do culto ao Deus Marlboro a quatro anos, fumando em média um maço por dia. Em noventa e nove, quebrei um recorde, tendo ficado quatro dias sem pôr um cigarro sequer na boca, a pedido de uma menina que eu era afim. Comprei um maço novo segundos depois de levar um belo fora. Em fins de dois mil e um, consegui reduzir os cigarros durante três semanas. Na primeira semana, fumava um ou dois cigarros por dia. Na segunda, resisti sem nenhum, até o fim de semana. Na terceira, passei o fim de semana ao lado de fumantes, e não dei uma tragada sequer. Na segunda-feira seguinte, tive uma recaída e todo o esforço foi pelo ralo.
A atual tentativa é a que parece ter mais chances de dar certo. Vontade e acesso. São as palavras chave. Minha mãe me entregou uma pasta de textos, da época que fez um curso para parar de fumar. Nem cheguei a abrir. Não precisei. Vontade e acesso. A vontade de acender um cigarro, fortificada pelo acesso que se tem a um cigarro. A hora que eu sentir que preciso de um cigarro, dou duas batidinhas na porta da minha irmã e peço um cigarro ao meu cunhado. Ou desço e compro um maço novo no posto de gasolina. Tenho dois reais guardados especialmente para isso. Posso fazer isso a hora que bem entender. Não precisa ser agora.
Decidir parar de fumar, ou largar qualquer tipo de vício, a partir do momento que você conhece os - e acredita nos - riscos, é uma decisão a ser tomada a qualquer hora, sem nenhuma motivação especial. Aguardar pelo momento perfeito e mais justificável é adiar algo que você deveria fazer, o mais breve possível.
- Felipe Meyer
- Publicitário, redator e pseudo-quadrinhista. Ser humano do gênero masculino mais perto dos 30 que dos 20. Gestor de conteúdo do Jornal de Debates. Formado em Comunicação Social pela Faculdade Estácio de Sá de Santa Catarina. Casado, pai de uma linda coleção de revistas em quadrinhos, exilado de Florianópolis e tentando fazer a vida em São Paulo, na Auszuglândia.
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