Às vezes o blogger dá alguns bugs que não têm como resolver. O jeito é sentar e esperar. Mas e aquele post que você escreveu com tanta dedicação (tá bom... nem tanta) e bate uma preguiça imensa de escrever de novo? Cole num arquivo txt e deixe pra postar depois. O problema é se você esquece de postar...
Aí seguem alguns posts que estavam arquivados em txt:
2 de maio
Dois velhos funcionários, daquela empresa que tinha sua sede no alto daquela rua, aproveitavam um momento de lazer. Antes do horário de iniciar o trabalho, conversavam sobre os assuntos habituais: as esposas, os times do coração, os filhos insuportáveis, o trabalho cansativo. A certa altura da importante conversa, um terceiro e não menos desocupado funcionário surgiu com a pergunta: "Souberam do 'boy'?", e após uma rápida (e obviamente exagerada, como sempre são as histórias contadas antes do horário de iniciar o trabalho) descrição dos fatos, o terceiro saiu da sala, pensando em tomar um bom café forte para começar o dia (e em encontrar algum outro funcionário para compartilhar a história), deixando os dois funcionários a pensar sobre o assunto.
- O 'boy'... Quem diria? Era tão novo...
- Pois é, o 'boy'... Ele tinha quantos anos? Dezessete? Talvez dezoito...
- Ou quinze, ou vinte e um...
- É 'barra'... Como era mesmo o nome dele? João, ou José...
- Ou Rodrigo, ou Thiago...
- E a mãe dele, o que deve ter pensado... Tão simpática a Dona Augusta... Ou Dona Júlia...
- Ou Maria da Conceição...
Após breves cinco minutos, que poém pareceram uma eternidade, os dois funcionário (cada qual na casa dos seus quarenta anos, ostentando uma avantajada barriga de cerveja e uma habilidade sem igual de arrumar desculpas plausíveis para fugir do trabalho) perceberam a dura realidade: não sabiam nada sobre o 'boy'. Lembravam, sim, de tê-lo visto várias vezes pela empresa, com seu boné virado para trás, e suas calças rasgadas, que eram sempre as mesmas, mas por alguma razão em algumas lembranças surgia perfeitamente bem conservada. Lembravam perfeitamente de seus cabelos, que podiam ser louros, morenos, ruivos, curtos ou compridos, lisos ou cacheados, mas ainda assim, eram vívidos em suas lembranças. Lembravam do sotaque carregado do rapaz, que podia ser gaúcho, paulista ou nordestino. A secretária, ouvindo a conversa dos dois, lembrou também que podia ser um sotaque interiorano, mas eles não deram atenção.
Uma rápida visita ao departamento social deixou os dois funcionários ainda mais confusos. Descobriram que o "boy" poderia ser também um assistente, ou um programador, ou mesmo um 'designer'.
Lembraram que o 'boy' (ou assistente, ou programador, ou 'designer') havia sido contratado pelo chefe de seção, mas este não soube dizer se o 'boy' (ou assistente, ou programador, ou 'designer') trabalhava em meio período, integral, ou mesmo como free-lancer.
Na contabilidade, onde a investigação dos dois funcionários já havia sido percebida (como sempre são percebidas e aumentadas as histórias contadas durante o horário de trabalho) surgiam cada vez novos boatos sobre o 'boy' (ou assistente, ou etecetera). A mocinha das cópias, do terceiro andar, lembrou de ter levado uma cantada do 'boy' em certa ocasião, mas não soube dizer se reagiu bem ou mal, ou se lhe deu um tapa na cara ou se havia aceitado o convite para sair. Poderia mesmo ter ido com o 'boy' a um motel, mas não sabia dizer ao certo.
A certo momento, um dos funcionários teve a brilhante idéia de ligar para o banco, onde o 'boy' (caso fosse realmente um 'boy') com certeza deveria ser reconhecido, principalmente pelo gerente que sempre dava atendimento preferencial aos assuntos da empresa. O gerente alegrou-se em ouvir do 'boy', a quem não via a vários dias, e o descreveu como um rapaz muito simpático mas não muito amigável, de boas piadas mas com pouco senso de humor, nem alto nem magro, nem baixo nem gordo.
Já era quase noite e os dois funcionários ainda reviravam papéis e arquivos de computador, faziam telefonemas e arrancavam os cabelos um do outro, cada um com suas camisas suadas já deslocadas para fora das calças, e dezenas de copinhos de café amontoados em suas mesas. Às duas da manhã, a esposa de um dos funcionários ligou preocupada. Às três, a esposa do outro também ligou. Às quatro e vinte e três, as duas apareceram juntas no escritório. A segunda carregava o caçula no braço, e este chorava sem parar.
Os dois tentaram explicar sobre o 'boy', que também poderia ser um assistente, ou um programador ou um 'designer', que não era alto nem magro, nem baixo nem gordo, que podia ter quinze ou vinte anos, com os cabelos compridos ou talvez curtos, de calças rasgadas ou em perfeito estado, e que podia ou não ter 'traçado' a mocinha das cópias do terceiro andar. O primeiro funcionário foi arrastado pela esposa pelas orelhas, como se fosse um garoto que tivesse ficado brincando até tarde sem avisar os pais. O segundo não esperou tal reação da esposa, e prontamente a seguiu, de cabeça abaixada. No dia seguinte não foram trabalhar.
Alguns dias se passaram, e outros dois funcionários conversavam sobre os assuntos habituais: as esposas, os times do coração, os filhos insuportáveis, o trabalho cansativo. A certa altura da importante conversa, um terceiro e não menos desocupado funcionário surgiu com a pergunta: "Souberam daqueles dois caras do segundo andar?".
9 de maio
Os últimos tempos têm sido realmente nostálgicos. Outro dia cruzei com minha professora de cataquese na rua. Nem lembro mais o nome dela, mas reconheci-a na mesma hora, e ela me reconheceu também. Um abraço forte, um beijo, um "quanto tempo! como vai você?" e um sorriso de lembrar dos bons tempos da minha pré-adolescência, que me acompanhou o caminho todo até o shopping.
hoje assisti a um trecho de casa dos Artistas com a minha mãe. Fui sugado pra dentro do quarto, ao passar pelo corredor e ouvir "Your the first, the last, my everything", do Barry White. Minha mãe, não estivesse já acostumada com as minhas estranhices, teria ficado ainda mais chocado do que realmente ficou, ao me ver adentrar o quarto dançando e cantando a música. Isso me trouxe saudade os meus CD's que foram roubados (por aqueles dois malditos falsos amigos)... b.B. King, Dizzie Gillespie, Menphi's Slim, Steve Ray Vaughan, Ray Charles, Frank sinatra... Aliás, semana que vem, quando eu for a São Paulo, sou obrigado a insistir com o pessoal do #trails (gente que eu não vejo há anos) pra irmos em algum videokê. Adoro a interpretação emocionada que o Windblow faz de "I did it my way".
Pra finalizar o tema nostálgico, passei a última hora conversando com minha irmã sobre "gatinhos" e "gatinhas", rindo das últimas experiências amorosas dela, rindo das minhas, e trocando conselhos (mesmo sabendo que os dela sempre são mais válidos que os meus. Eu definitivamente sou santo casamenteiro das lésbicas e dos adolescentes).
25 de outubro (hoje! Esse quase ficou esquecido também. era pra ter postado à uma da tarde)
Minha irmã e meu cunhado só brigam. É algo além do entendimento de uma pessoa normal. Pessoas não são normais, dizem, relacionamentos menos ainda. Que seja. Outro dia fui pegar uns centavos na mesinha da minha mãe, e vi minha irmã dormindo com ela. Achei estranho: jurava que tinha visto meu cunhado chegar em casa com ela. Me joguei na cama e fui ver um filme aleatório na HBO. De repente a porta do quarto se abre e surge meu cunhado.
- Brigaram de novo, é?
- Não foi bem assim...
- Ah, fala a real, David... Que que cê aprontou dessa vez?
- Nada...
- Tá bom, eu acredito... (risos)
- O dvd dos 12 macacos tá aí?
- Ali em cima da mesa.
- Ah... Valeu.
- Tá sem sono?
- Nenhum.
- Eu também. Quer companhia?
- Tu já viu o filme?
- Já. Mas é um bom filme. Não me importaria de ver de novo.
- Então pega o travesseiro e vem.
- Daqui a pouco. Tem um cigarro?
- Tenho. Peraí... Toma.
- Valeu. Já volto.
Terminei jogado no quarto da minha irmã, vendo filme com o meu cunhado. Acabei dormindo na metade. Acordei com minha irmã me cutucando pra eu ir pro meu quarto. Pra variar, eles acabaram brigando. Ela, totalmente paranóico, assumiu que ele me convidou pra ver o filme por pura criancisse, pra provocar... Tentei avisar que eu me ofereci pra fazer companhia pro cara. Não adiantou. Não troco mais do que duas ou três palavras com o cara desde então. A lavada deve ter sido feia dessa vez. Ele quase não sai mais do quarto.
Hoje eles brigaram de novo, pra variar. Achei que fosse por bobagem. Discussão sem nada a sério. Passei pelo quarto dela e brinquei: "Parem de brigar, vocês dois, que saco!". Não foi o melhor momento pra fazer a brincadeira. Agora ela não olha tanto pra cara do meu cunhado quanto pra minha... É... Em briga de marido e mulher não se mete a colher. Quando a briga é de irmão pra irmão, só entre se for com facão.
- Felipe Meyer
- Publicitário, redator e pseudo-quadrinhista. Ser humano do gênero masculino mais perto dos 30 que dos 20. Gestor de conteúdo do Jornal de Debates. Formado em Comunicação Social pela Faculdade Estácio de Sá de Santa Catarina. Casado, pai de uma linda coleção de revistas em quadrinhos, exilado de Florianópolis e tentando fazer a vida em São Paulo, na Auszuglândia.
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