A situação a seguir apresentada é de certa forma baseada numa situação real, e portanto, não condiz necessariamente com a realidade. Comparações com pessoas e acontecimentos reais, no entanto, não são mera coincidência.

- Eu acho que eu tenho algum tipo de vírus recessivo, um gene sei lá...
- Anh!?
- Tipo uma peçonha, sabe? Você morde, e passa pro próximo hospedeiro, e esse vírus, ou sei lá o que, pode ou não se manifestar, se a pessoa tiver uma determinada característica.
- Do que que tu tá falando, afinal?
- De mulher, poxa! Sei lá, parece que tem algo em mim que transforma as mulheres em lésbicas.
- Putz! Essa eu nunca tinha ouvido.
- Não! Sério! Posso te citar pelo menos três ex-namoradas minhas que provam a teoria.
- Por exemplo...?
- A Ju! Lembra da Ju? Tá certo que a Ju já tinha tendências. Por sinal, eu conheci a Ju com ela beijando outra mina. Entro no bar e tá ela sentada em cima de uma amiga minha metendo linguada e trocando baba.
- A Ju já fazia gol contra antes...
- Sim! Mas ela sempre dizia que fazia pra curtir, que não conseguia gostar de verdade de mulher. Ficava pra festar, achava gostoso. Mas não sentia nada. Tanto que tu pode lembrar: tinha muita mina que ficava com ela e gamava... E ela sem saber o que fazer pra despensar.
- Muitas e muitas...
- Pois é! Nisso eu fico um tempo sem falar com ela, e ela começa a namorar com uma modelo maravilhosa, só fala dela, e depois fica chorando, sofrendo... Porque a tal modelo foi pra São Paulo e deixou a Ju sozinha por aqui...
- Londres.
- O quê?
- A ex-namorada da Ju. Elas terminaram. A mina agora tá morando em Londres.
- Que seja! O fato é que a Ju não gosta mais de pinto! E tem a Barb, também. Mas a Barb...
- É a Barb. A Barb a gente nem comenta...
- Claro! Tá certo. Todo mundo apostava, dizia que só podia ser. Mas eu sempre defendi a Barb contra qualquer um que falase mal dela. Batia o pé e botava minha mão no fogo pela sexualidade dela.
- E se queimou.
- Pois é. Um dia tô na Lagoa, ouço lguém me chamar, olho prum lado, pro outro... Quando olho pra baixo tá a Barb agarrada com a Mandinha, sentada na calçada.
- Decepção...
- Fodida! E a Karine?
- Cara! A Karine! Não deu pra acreditar...
- Não mesmo! Passei uns dois meses batendo a cabeça na parede por não ter comido aquela lá... Tava com ela no sofá, blusa pra cá, calça pra lá. Ha hora do "vamuvê", ela botou a calça rapidinho, me deu um beijo, uma pegada, e saiu com aquele sorrisinho de "Ha! Ha! Sacaneei".
- Eu me ajoelhava aos teus pés se tu tivesse conseguido.
- Eu me matava! Morria sabendo que cumpri minha missão na Terra. Imagina o susto que eu não tomei quando encontrei com ela na escadaria... Me enchi de cachaça, e, pra variar, tentei agarrar. É só eu beber que eu tento agarrar aquela gata maravilhosa de novo. É um lei da natureza.
- Tu quando bebe quer agarrar todo mundo.
- Mas a Karine é prato preferido. Daqueles que não têm no menu. Você chama o garçom e pede pra fazer especialmente pra você, com carinho.
- Eu devia anotar essa...
- De qualquer modo. Levei uns cortes básicos, sentei pra continuar bebendo e... Quando vi, tavam as duas, ela e a Fabi, no maior beijo. Ela vivia dizendo que não curtia mulher, que andava com as meninas porque eram amigas dela, etecetera... Que não era só porque elas eram quase todas lésbicas que ela tinha de virar uma também.
- E agora tá namorando firme...
- Pois é! O único ponto de ligação entre as três sou eu! Tô te falando... Eu tenho o dom (ou maldição) de transformar as mulheres em lésbicas! Acho que vou começar a beijar só homem. Quem sabe assim ocorre o processo inverso e a bicharada vira homem de vez?
- Me dá uns dez minutinhos que eu vou cair aqui no chão e ter um ataque cardíaco de tanto que eu tô rindo.
- Eu tô falando coisa sério, meu!
- Claro... He! He! Eu acredito...
- Palhaço...
- Cara... Eu até te entendo... MAs não adianta ficar inventando teoria. Oitenta por cento de Florianópolis é homossexual ou tem tendências fortemente reprimidas.
- Vai falar isso pra minha irmã! Ela é cheia de amigo veado, adora bichinha, mas de lésbica ela tem um nojo absurdo.
- É mesmo? Geralmente essas que dizem tanto que não gostam, são as mais enrustidas.
- Então te desafio a dizer isso na cara dela. Sem noção o quanto eu escutei quando comecei a namorar com a Ju!
- Por que?
- Ela conheceu a Ju quando a Ju ainda ficava com a Mari... Ela viu as duas se beijando um dia lá em casa. Armou um escândalo depois. Minhas orelhas ficaram inchadas... Passou um tempo, ela descobriu que a gente tava namorando, e foi mais um escândalo. Pra ela era um absurdo eu namorar com uma "lésbica nojenta", como dizia ela.
- Porra, que preconceito...
- Mas nem adianta reclamar, que preconceito todo mundo tem. Todo mundo acaba sendo mais moralista do que admitiria ser. Eu me digo todo mente aberta, com muitos amigos gays, amigas lésbicas... Mas eu tenho meus próprios preconceitos. Aliás, eu tenho muitos preconceitos. Tu também.
- É...
- Sei lá, cara... Se eu tenho um amigo preto, ele é meu amigo e só, independente se podia ser preto, lilás ou quadriculado. A cor dele não me importa. Veado, se for feio, quero longe de mim (porque, vamos e venhamos, levar cantada de veado feio é ainda mais traumatizante). Lésbica... Lésbica eu adoro!
- Ha, ha, ha!
- É que nem hambúrguer! Gosto tanto, que como com as mãos! Como aquele velho estereótipo "macho": odeia levar cantada de veado, e por sinal, acha que todo veado que chega perto tá dando em cima. Bate em veado pra mostrar que é macho, mas adora lésbica. Macho que é macho toma cerveja no gargalo e diz "adoro ver duas mulheres se pegando".
- Podre... Conheço muita gente assim.
- Pois é, minha irmã é assim, só que versão feminina. É tão homofóbica que às vezes parece que é "macho".
- Vou parar de frequentar a tua casa.
- É... Acho que eu também...

0 Comments:

Post a Comment




 

Copyright 2006| Blogger Templates by GeckoandFly modified and converted to Blogger Beta by Blogcrowds.
No part of the content or the blog may be reproduced without prior written permission.