Talvez esse tipo de pensamentos me afetem mais do que eu admitiria em uma situação normal. Sim, admito aqui: esta não é uma situação normal. Não aconteceu nada, nada de novo pelo menos. Simplesmente me pus a pensar, e pensei demais. Pensei no rumo que dei à minha vida, as chances que tive, principalmente as chances que disperdicei. As capacidades que tenho. Tenho certeza de que tenho muitas. E sobre o meu medo de seguir em frente. De ser um cidadão, um "homem feito", pai de família, normal; conceitos antiquados que poucos dos que eu conheço admitem prezar mas muitos deles ambicionam.
Tenho medo, muito medo mesmo. De ter um emprego, um diploma, uma namorada, uma casa, um carro. De ser independente, não dever a ninguém. De, ao menos materialmente, não precisar de ninguém. Entendam... Se para cada coisa ruim que surge em nossas vidas, surge uma coisa boa para nos apegarmos, o processo inverso é tão válido quanto: ao obtermos coisas boas, conquistas a se orgulhar, tão rápido quanto essas coisas boas surgem, outras coisas maravilhosas nos são tiradas para serem compensadas por coisas ruins. E as coisas que você mais ama, são aquelas que você mais odiaria perder. E que sentido sádico é esse da natureza, que lhe tira exatamente ESSAS coisas boas? Antes da tempestade, vem a calmaria. E se as coisas parecem boas demais para ser verdade, é porque em breve algo igualmente ruim vai acontecer, para que enfim, seja verdade. Nem tão bom, nem tão ruim. Zerado.

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