No site do dublador Guilherme Briggs encontrei uma "explicação" para o cancelamento do desenho Freakazoid (de longe um dos mais originais produzidos pela Warner nos últimos anos). O texto abaixo foi retirado do site:
Desenhos rebeldes...
Freakazoid é apenas um entre os muitos outros personagens rebeldes de desenhos animados. Na verdade, os estúdios nunca gostaram de inovações repentinas e radicais. Encontrada a fórmula da química perfeita, ela era repetida à exaustão, tudo sempre de maneira gradual, acomodando uma mudança de cada vez.
Imagine um coelho vestido de mulher infernizando a vida de um caçador, chegando até a se casar com ele. Em plena década de 50, isso era ousado demais. Hoje, Pernalonga - o famoso "Bugs Bunny", ou simplesmente "Bugs" - é um dos personagens clássicos da animação mundial. Um outro exemplo bem mais recente é o de "Ren & Stimpy". Genial, revolucionário e escatológico, este desenho sofreu o pão que o diabo amassou: foi recortado, censurado e os animadores tiveram até os pagamentos suspensos por não se submeterem ao estilo da emissora que tinha comprado seus episódios para exibir em sua grade "politicamente correta". E olha que eles tinham "carta branca" do estúdio para fazerem o que quisessem, liberdade artística sem precedentes... A Vaca e o Frango, Eu Sou o Máximo e toda essa leva nova de animações "radicais" e escatológicas foi inspirada no cão chiuaua Ren e no gato lambão Stimpy. Que Deus os tenha com muito carinho.
O espírito da coisa...
A Warner não entendia as inovações em sua mais nova produção. Os vilões eram maus, mas passavam as férias com o herói principal numa ilha paradisíaca deserta. Trechos de filmes antigos de terror e mudos apareciam aqui e ali sem motivo específico. As "gags" visuais eram estravagantes e os diálogos não seguiam uma linha de raciocínio lógico. Freakazoid tinha múltiplas vozes, personalidades e motivações. Nem os escritores, produtores e animadores eram poupados : Spielberg era um dos personagens nas inúmeras auto - paródias. Conceitos novos, histórias deliciosamente ridículas, clímax e anti - clímax variados e inesperados, situações livremente inspiradas no humor surreal do genial grupo humorístico inglês Monty Python... Absolutamente TUDO podia acontecer! ...
(...)
O veredicto final...
"Freakazoid era louco demais. O desenho estava preso numa interminável teia de situações bizarras e sem propósito. As personalidades eram muito instáveis - um péssimo exemplo para as crianças. O grande público não ia entender a maior parte das piadas. Não existia um começo, meio e fim; o desenho podia ser interrompido a qualquer momento; gerando confusão e falta de harmonia na narrativa. Era politicamente incorreto. Brincava com as instituições públicas, frequentemente se utilizava da metalinguística e de piadas internas...."
Imagine um executivo de Hollywod lendo esse texto numa reunião com toda a equipe de produção...
Simplesmente não entenderam o espírito da coisa. As pessoas gostam do Freakazoid EXATAMENTE por isso! Esta é a química, a chave para abrir o personagem, e não para trancafiá-lo no limbo do esquecimento.
Descanse em paz, meu amigo. Quem sabe um dia você volte? ...
... Afinal, somente a criatividade e os desenhos animados são eternos nessa história toda...
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