Túnel do tempo III:

Presunto está ainda nos seus 17 anos, mas a namorada foi-se há muito tempo (depois de um tempo, simplesmente não suportava mais olhar para ela; reação até hoje inexplicável... a não ser pelo fato que mulher feia uma hora realmente cansa). Presunto está a pelo menos oito meses na seca (ou na mão, como diriam alguns). Seus principais hábitos são encher a cara com os amigos no "Experience Tattoo Art Bar", lugar que ele frequënta mais do que qualquer outro, perdendo, talvez, para os chats de internet (onde ele refugia-se do deprimente mundo extrior, e da sua vida aparentemente mesquinha), ou a boa e velha pracinha da ETFSC (sempre cheia de amigos fumantes e viciados em truco). Os falsos amigos foram-se também, após transformarem praticamente três mil reais de posses (fossem elas de nosso herói, ou de sua família) em um estranho pó branco que os fazia ranger os dentes e inventar teorias matemáticas para explicar a existência de Deus.
Sua principal companhia, nessa época, é Trocero, a primeira amizade feita quando entrou para a Escola Técnica; e Lunática, sua adorável (corna) namorada. Os dois apresentam a Presunto uma menina baixinha e de cabelos louros, e dão grande incentivo para que ele se torne mais "íntimo" da mesma.
Presunto, que mesmo a essa ltura do campeonato ainda é um babaca sem tamanho, fica paralisado toda vez que a menina lhe dá a mínima chance de agir, e acaba por passar a noite toda aturando a pentelha falar sem parar sobre Kurt Cobain, como se não conhecesse nenhum outro assunto.
Passa-se algum tempo, e surge uma boa oportunidade. Presunto, Trocero, Lunática, Panqueca (à época, namorada de Drops, que era quase um desconhecido, mas viria a se tornar praticamente um irmão), e a menina dos cabelos louros. Pegam um ônibus e descem na Lagoa da Conceição, onde logo Trocero e Lunática somem, Panqueca também (se é que ela realmente estava lá... a memória de nosso herói é falha), e acabam por sobrar Presunto e a menina, além de "Peixe", o conhecido da noite que tem gosto parecido com o de Presunto para mulheres. E ao que tudo indica, o paladar da menina prefere peixe a carne de porco barata.
Peixe, como bom amigo, entretem-se nas conversas sobre Kurt Cobain (assunto que ele parece adorar), mas em respeito a Presunto evita de tomar outras iniciativas. Por fim a menina vira-se para Presunto (agora bêbado, e o único amigo por perto, para se fazer algum tipo de confidência).
- Será que o "Peixe" nunca ficou com ninguém?
- Por que a pergunta?
- Poxa... Tô dando um monte em cima do cara, e ele não faz nada!
- (risos) Ah... Isso é fácil de explicar...
- Então me explica que eu não entendi nada... Ele é veado?
- Não... Não é veado... Só é amigo. E ele sabe que tem outro cara da galera que tá muito afim de ti, e por isso não faz nada.
- (pasma) Anh... Que... Como... como é que você sabe?
- Porque esse cara sou eu.
- .....
- Mas se você quiser, eu dou um toque pro rapaz. Não tem por quê, esse "código de honra" entre camaradas;
- Você tá falando sério??
- Tô! Claro! Se quiser eu vou lá agora.
- Não! Sobre... mim! Você...
- Ah... Isso. Sim, eu tô falando sério. Tenho adorado essas últimas vezes que a gente saiu... E posso dizer que... acho que... tô completamente apaixonado por você.
- SÉRIO!???
Presunto, num dos momentos mais vergonhosos de sua vida, momento este que seria relembrado por muito tempo, em muitas conversas de bar; deixa-se levar pelo álcool (disculpa fácil, depois de fazer a idiotice) e se ajoelha.
- Ajoelho-me aos teus pés se não acreditas.
A menina sorri, suas bochechas ficam rosas.
- Mas assim... Somos amigos, e eu gosto muito de você. E o que me importa é ficar próximo de você... E vê-la feliz. Vai lá e agarra o cara! Eu até ajudo!
- (pausa) Er... Não. Não é com ele que eu quero ficar.
Presunto tem a noção de que aquele beijo jamais terminará... Mas, wtf, ele não está reclamando.

(...)

Dia seguinte. Os dois deveriam se encontrar no shopping. Após algumas boas horas de atraso, ele liga. A voz do outro lado é trêmula e baixa, tentando esconder a vergonha.
- Presunto... É que... Bom... Eu acho que não quero mais ficar contigo.
Presunto diz um "tudo bem, eu entendo, fazer o que", desliga o telefone, e compra uma carteira de cigarros (hábito que ele havia abandonado dias antes, a pedido dela).
Estranhamente, após algum tempo, ela aparece (ela havia salientado várias vezes como não pretendia mais aparecer no shopping naquele dia). Drops, alheio à situação, carrega-a pelos ombros até a mesa de Presunto, com um largo sorriso no rosto.
- Olha quem tá aquiiiiiiii!!!!!!
Oi, tudo bem, como vai, beijinho, beijinho. Drops não entende nada.
- Só isso?? Beijinho no rosto???
Panqueca manda Drops ficar quieto. Ele tenta abrir a boca para reclamar, mas desiste, quando vê a expressão de revolta de Panqueca.
O tempo parece passar devagar demais. Nicca, que nada tem a ver com a história, mas ainda assim adora se intrometer (até hoje) na vida dos outros, força a menina a conversar com Presunto. Ela o chama, os dois vão a um lugar mais calmo, e Presunto enche-se de esperança.
- Eu não sei bem o que eu tô sentindo... Gosto muito de você, e não vou dizer que o que rolou ontem não significou nada... Mas... Por enquanto eu acho que prefiro você só como amigo, mesmo. Mas me dá um tempo pra pensar... Eu posso te procurar depois e...
Presunto se retira. Um único fora já era o suficiente. Dois no mesmo dia, da mesma pessoa, era abusar demais.

(...)

Passam-se alguns dias. A menina liga para Presunto, diz que sente saudades, e precisa conversar com ele o mais cedo possível. Ela mudou de idéia, é a única resposta. Marcam de se encontrar no dia seguinte, na saída de um colégio onde estudam vários amigos dos dois. Ela o chama para um canto, sorri, pergunta como está, como vai a família...
- Eu preciso te contar uma coisa.
- Siga em frente!
- É que... Eu decidi! E realmente gosto de você só como um amigo.
Presunto compra outra carteira. Caralho! TRÊS FORAS???

(Essa história hoje é famosa... Não há, nos bares e botecos frequentados pelo nosso herói, quem não conheça a famosa história da garota dos Três Foras. E todos concordam - inclusive ela, que ouviu essa história em certo momento, também - que um apenas já bastava.) ^_^

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