Ainda sobre DK2...

Observem algumas coisas que eu achei pela internat sobre essa primeira edição:

"Certa vez, Neil Gaiman, o roteirista britânico que recriou Sandman, disse que uma boa história tem começo, meio e fim. Quando Frank Miller anunciou que faria uma continuação de Cavaleiro das Trevas (a original), muitos leitores (inclusive este que vos escreve) foram contra, pelo fato de este clássico das HQs de super-heróis se encaixar perfeitamente nessa definição.
A polêmica aumentou ainda mais quando foram divulgados os primeiros previews das artes da série. Mas o fato é que, depois de tanto "barulho", O Cavaleiro das Trevas 2 tornou-se o maior sucesso de vendas nos quadrinhos americanos em muitos anos. Afinal, todos queriam conferir os novos rumos que Miller daria ao Morcego cinqüentão.
Pelo primeiro número, tem-se a impressão que O Cavaleiro das Trevas 2 será, no máximo, uma boa história, passando longe da revolução que sua antecessora gerou no mercado. Frank Miller continua sendo um excelente contador de histórias e dono de uma narrativa visual que poucos roteiristas/desenhistas possuem.
Mas, ao mesmo tempo em que as sacadas para o aprisionamento do Flash e do Átomo foram geniais e a utilização de vários personagens da DC foi muito legal, o artifício usado para transformar o Super-Homem num empregado de Luthor e Brainiac foi quase simplório. Durante sua carreira, o Homem de Aço foi chantageado inúmeras vezes por bandidos que tomaram pessoas queridas dele como reféns e, mesmo assim, sempre contornou a situação sem se tornar um vassalo de vilões, e sem deixar o povo da Terra à mercê de seus inimigos.
No entanto, não é no roteiro que a coisa "está pegando". O Cavaleiro das Trevas 2 poderia perfeitamente se chamar "No Reino dos Pés-Grandes", tal o exagero que Miller adotou, seguindo seu estilo de traço atual. Em Sin City isso funciona bem, mas numa história de super-heróis ficou bastante esquisito.
O ponto mais negativo da obra é, sem dúvida, a colorização de Lynn Varley. Ela é uma excelente profissional na pintura manual, mas resolveu usar O Cavaleiro das Trevas 2 como "campo de testes" para seu primeiro trabalho em computador, o que é inadmissível. O resultado é catastrófico.
As cores ficaram berrantes ao extremo, num "psicodelismo" que não combina com o clima do roteiro, ainda mais se lembrarmos que o personagem principal é o Cavaleiro das Trevas. Varley também parece ter resolvido aplicar todos os filtros e efeitos que descobriu no Photoshop.

Por incrível que pareça, nesta primeira edição, Miller e Varley conseguiram fazer os leitores sentirem saudade da arte-final de Klaus Janson.
A edição da Abril está bem produzida, mas o papel de capa poderia ser mais encorpado.
É claro que O Cavaleiro das Trevas 2 é leitura mais do que obrigatória para os fãs de quadrinhos, ainda mais em tempos de histórias de super-heróis tão pífias. Entretanto, a sinergia entre roteiro, desenhos, cor e arte-final que se viu na primeira minissérie, há 15 anos, está muito longe de ser alcançada.
Por isso, é melhor o leitor analisar esta minissérie como uma obra "nova" e não estabelecer comparações com O Cavaleiro das Trevas, uma das melhores HQs de super-heróis de todos os tempos. Seria covardia."


Sydnei Gusman - Universo HQ

"O fim desse primeiro volume da trilogia é um sonho que se tornou realidade. Pelo menos pra quem acompanha quadrinhos de super-herói. Não ouso nem sugerir o que acontece. Miller, como sempre, inova o sistema de narrativa que criou com Ronin, atrasando o máximo possível as cenas decisivas, antecedendo-as com sequências tensas e cheias de quadrinhos. Mas quando elas vêm, caramba, sai de baixo. Comprem essa obra-prima porque não existe possibilidade de arrependimento. Está prometida pros outros volumes uma aparição do Homem-Elástico e um tipo de 'romance' entre o Super-homem e a Mulher Maravilha.
Miller provou de uma vez por todas que é possível fazer uma continuação sem desonrar a obra original.

Devia ser em preto-e-branco - Dito isso, vamos à parte ruim de DK2, que não chega a estragar, mas irrita: as cores de Lynn Varley. A mulher de Frank Miller parece que ganhou um computador há uma semana e ficou deslumbrada com os efeitos prontos do Photoshop. Por trás do traço competente de Miller (ele dispensou a ajuda de Klaus Janson, arte-finalista do primeiro DK) aparece um caleidoscópio de pixels ampliados, arcos-íris, degradês desnecessários e fundos preguiçosos. Pra fazer uma explosão, ela copia aquelas camisetas de hippie torcidas na Q-boa. Em momentos lembra aquela porcaria do Batman Digital Justice, feito por um tal de Pepe Moreno nos primórdios da computação gráfica.
Frank Miller começou de uns tempos pra cá a revolucionar os gibis de novo com um título que mostrava a tradução perfeita pra gibi do romance Noir: Sin City. Sabe por que Sin City é em preto e branco? Porque quando a Lynn Varley terminou de ler o roteiro da primeira história ela disse pro Frank que não iria pintar, que estava morrendo de preguiça. O que mais dá raiva é que a Lynn Varley sabe pintar direitinho. Quem leu o primeiro Cavaleiro das Trevas, o Elektra Vive, ou até mesmo o Zôo de Esparta (300, pra quem sabe ler) sabe disso. Com o trabalho que ela fez em DK2 ela perdeu seu status de artista competente e entrou pro rol de esposas-problema. Resumindo: Lynn Varley pisou muitíssimo na bola com sua colorização "inovadora" e deslumbrada. Lembram do backing-vocal desafinadíssimo da Yoko nos discos solo do Lennon? É a mesma coisa."

Pedro Valente e André Valente - O Malaco

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