Segue abaixo o e-mail de apresentação que o Nicolas mandou pra lista da flundi.

To: flundi@yahoogrupos.com.br
From: Nicholas Frota
Subject: da pretensa cena eletronica barriga verde
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oi galera. sou nicholas, conhecido por alguns que frequentam a cena do rio, e to acompanhando a discussao de vcs de fora, e resolvi entrar pra esclarecer algumas coisinhas.

primeiro, a cena eletronica de floripa eh muito fraca. mesmo. muito mais que os outros.

abaixo, os motivos:

djs punheteiros: aqueles que ateh sabem o nome de todas as musicas de cor - de nerds que sao - e se esmeram nas manobras pra impressionar seus companheiros de meinha, mas nao sabem, ao tocar prum publico, o que a galera tah pedindo, como jogar, como agradar.

cisao rock e techno: o rio jah passou pelos memes "techno nao eh musica, eh barulho", seguido do "techno vai matar o rock" ateh a coexistencia pacifica de agora, e o intercambio de ideias ha muuuuito tempo atras.

porra, aqui a galerinha rockabilly (que apesar do marasmo geral da noite de floripa, se mantem em sua cena) nem conhece techno, nunca ouviu sequer algo para no minimo apurarem os ouvidos. as festas aqui (se existem) sao tao fechadas que nem eu que to SEMPRE online fico sabendo...

assim nao dah nem pra comecar...

cisao hetero x gay: foi dificil explicar pro meu namorado que o aragao eh hetero, e frequentava noites ditas "gay" aqui. simplesmente eh demais entender que o que une eh a musica.

boate "techno" aqui (e falo de popero comercial) eh gay, e boate de hetero eh popero comercial. como a noite "gay" eh uma virgula mais underground, eh o que nos faz preferir a concorde ao santo.

carao, metas do fmi: a galera aqui tah mais interessada em mostrar pra galera de fora (rio, sampa, resto do pais) que aqui tem uma cena, que criar uma cena propriamente dita.

desprezo aos habitues. incapacidade de formar galera: os djs ignoram quem os prestigia (nao posso me esquecer a noite no havana que fritamos loucos de e pq os djs se esqueceram de avisar o basico: a musica techno comeca as 3. quem me faz fritar nao merece meu respeito), babam o ovo das pessoas erradas, nao sabem formar publico.

aqui vale um adendo mercadologico: apesar de toda banca "profissional" que tentam nos fazer crer (na real, soberba disfarcada) vcs djs nao sao contratados para as festas por tocarem bem, mas simplesmente pelo publico que mantem "atachado". simple as that. se vcs nao conseguem cativar um publico fiel (porra, listas de discussao sao gratuitas, carai), nunca serao respeitados profissionalmante. respeitem seu publico.

mais a mais, na sociedade midiatica que vivemos (quem aqui tem seu ganha-pao garantido com trabalho muscular? garanto que poucos), todos sao um pouco artistas e um pouco consumidores de simbolos. descam do palco, portanto.

carao, carao, carao: essa "religiao do techno" que suga as energias do publico passante nao dura muito. essa supercompensacao de desprezo aos que nao fazem parte da cena eh suicidio profissional. pq poucos sao idiotas para cair nesse joguinho imbecil, e os poucos que sao, sao justamente os que vao estar ao seu lado, hehe! :)

the ivory tower: basico de matematica do caos: qualquer grupo que se torna virtuose (mais interessados em cheirar seus respectivos cus que praticar noblesse oblige), mais cedo ou mais tarde acaba sendo destruido por um movimento do-it-yourself. pensem na reforma religiosa, revolucao francesa, punk, rap, e agora, o trance (nao, nao to pondo na mesma perspectiva, seus tansos).

o movimento trance toca com cd e md (mixagens mais pobres, mas maior poder de replicacao, diferente dos caros - e isolados - vinis que utilizam), festas rave (tendinhas, cultura de circo, logistica eficiente), canal de drugs (eeeh, vc nao precisa rodar muito pra ter acesso ao seu quinhao), e uniao da galera (nada do carao de voces, em que basta um subir para ser detonado pelos proprios colegas - mediocridade como heranca). beware, eles tratam bem quem chega, independente da origem.

e afinal, essa insitencia em formar um mapa hierarquico de gostos musicais eh trabalho em vao!
nao era esse o mote da musica eletronica? ecumenismo? free for all? rok da house? eh vergonhoso pensar que uma decada depois em que sobrevivemos ao meme "isso nao eh musica, eh soh barulho" praticamos o mesmo elitismo de "quem ouve musica XXX nao merece discutir sobre YYY".

quando for martelo (e vcs nao sao, darling, apesar de tentarem se convencer por todos os modos), lembre-se que jah foi prego.

repent, fellas, repent.

no rio, a gente tem um termo pra galerinha carao: sao os "dead people". assim mesmo, "i see dead people", seguido de um calafrio quando passam. eh como vcs estao. freezing no seu carao e soberba.

ninguem nasce geneticamente voltado para a musica eletronica, eh preciso entao simpatia e humildade para fidelizar a galera. desprezar a todos que nao sao do grupinho jah destruiu varios imperios, o que nao faria com a pifia noite de floripa.

e quanto a concorde. lah tem o clima techno. e galera techno (infelizmente ouvindo o casa-dura do beto mafra, mas isso eh mais pela inabilidade dos djs punheteiros em se fazerem presentes). clima legal. vagabice e finesse na medida certa (muito vagaba cai em chandon, muito finesse cai no carao dos elegantes-djs-techno-de-floripa).

ok, ver o rae fazendo performance com asas de anjo ao som da musica tema da novela da globo is not my idea of fun, mas veja bem, digo a melhor no sentido de "better", nao de "best". pra vcs verem o que a inacao dos seus soberbos djs (pq sou carioca, turista em flopz) relega aos turistas.


ps 1. ajudo moh galera da noite do rio com meus designs (sou ateh bem conhecido, mas nao vamos entrar na hypacao de mim mesmo), poderia fazer aqui, se descessem do palco.

ps 2. to saindo da lista em breve, soh quero ver o circo pegar fogo. nao eh fuga, podem falar comigo por fora, mas nao curto nem br-raves, imagina me ater a pretensa cena eletronica de flopz (desculpa, jah suei muito pela cena do rio - primeiro after de techno com ricardinho ns, festas na dr smith, 1910, guetto, bunker... - e nao pretendo retornar para idos de 92, que eh onde a cena parou por aqui).



na fé,
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n i c h o l a s # f r o t a
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