Continuando a Marvel brasileira:
O Incrível Monstro
Quando tentei imaginar um Hulk brasileiro, tive de mudar vários conceitos... Em primeiro lugar, o Brasil não passou pela paranóia americana da guerra-fria, portanto, nossa tecnologia nuclear nunca foi voltada à indústria bélica. Para explicar a existência de um "Hulk" brasileiro, precisaríamos de um acidente, algo envolvendo funcionários sem o devido treino, operando uma tecnologia instável e ainda não completamente dominada. Cheguei a pensar em ligar sua origem ao Césio 137 (qua matou 4 pessoas em Goiânia, em 1987), e me lembrei da origem do Parasita (inimigo do Super-Homem; conseguiu seus poderes depois de manipular material radiativo da usina onde trabalhava, tentando encontrar algo de valor para vender). Mas logo descartei a hipótese, pois os males causados pelo Césio 137 eram "pequenos" demais, pelo menos em comparação aos descritos em histórias de super-heróis, e seria ´talvez até insensível demais, transformar um desastre brasileiro que até hoje não foi totalmente esquecido, numa espécie de entretenimento (ainda que essas "origens" sejam apenas exercícios de imaginação, e não teriam nenhum futuro além de divertir a mim e alguns amigos).
Pensei então, em desenvolver primeiro o personagem. Um grande problema que vejo em muitos personagens da Marvel, é a perfeição exagerada deles. Como por exemplo um cientista idealista que se joga num campo de testes nucleares para avisar um zé mané que nunca viu na vida, de que ele corre perigo, e quase morre fazendo isso.
Foi surgindo na minha mente, aos poucos, o personagem Bruno Bandeira, um universitário sem muitas ambições, apesar de dotado de uma alta inteligência. O Bruce Banner original se associou ao exército pra poder financiar outras pesquisas envolvendo radiação gama, mas o nosso Bruno Bandeira não deseja nada além de passar a vida num escritório coçando o saco, e ganhando rios de dinheiro por isso. Pra isso ele acaba sendo indicado por um "padrinho" a um cargo de poucas responsabilidades na Usina Nuclear Angra 1. Basicamente o trabalho dele é monitorar funcionários, anotar números, preparar relatórios imutáveis sobre o funcionamento dos reatores, e, é claro, coçar o saco.
Acomodado no trabalho, sem muita dedicação ou mesmo competência, ele acaba vendo-se em meio a um vazamento com o qual não sabe lidar, e acaba sendo pego por uma explosão, que deforma o seu corpo, transformando-o numa espécie de câncer-ambulante (mais ou menos como em Ruínas, só que não tão nojento). As autoridades, é claro, abafam o caso, e só 4 meses depois o acidente é divulgado, mas em proporções bem menores. Isso é tempo o suficiente pro jovem cientista Bruno Bandeira desaparecer do mapa. Confuso e com um corpo monstruoso levando-o à beira da loucura, ele passa a percorrer o país, sem rumo, escondendo-se em trapos imundos e dormindo em becos mal-cheirosos. A idéia é relembrar as histórias de terror que eu lia quando criança, impressas em preto e branco e escondidas na última prateleira da banca, atrás de revistas como "A Hora do Lobisomem" e "A Maldição do Vampiro". Ao invés de um cara grande verde e burro pulando por aí e salvando o mundo, ele seria um personagem muito mais sombrio, dominando uma incrível força mais tendo que lutar consigo mesmo pra manter sua sanidade. Ele combateria ladrões de rua e grupos de extermínio, sempre à noite, e logo depois fugiria, mais com medo das pessoas, do que elas dele. Para escrever e desenhar, ninguém melhor do que os mestres que trabalharam na Spektro. Talvez uma participação especial no roteiro, de Arthur Vecchi (autor do rpg de humor Monstros).
Marechal Brasil
Pensando no Capitão América, em sua versão brasileira, imediatamente me veio à mente aqueles uniformes de gala, como a que Pedro I utiliza nas pinturas sobre a Independência. Porém, totalmente nas cores da bandeira do Brasil. Detalhes importantíssimos seraim o cavalo branco, e a espada presa à cintura. Pensei em dar a ele um papel tipo "quadrilha da fumaça". Há muitos anos atrás, ele faria apresentações em datas especiais (como 7 de setembro), montado sobre seu cavalo branco, derrotando dezenas de inimigos de uma só vez, lutando pela soberania da nação. Tudo ensaiado, obviamente. Mas isso bastaria para encher os olhos do público de lágrimas, e ele ser aclmado como ídolo nacional. Ele seria, na verdade, um super-soldado criado e treinado por governos estrangeiros (interessados em manter a ditadura no Brasil), e preparado pela nação brasileira para uma revolução que nunca chegou a acontecer...
Não pensei em ninguém para desenhar ou escrever esse personagem... Pra falar a verdade, achei ele bastante idiota... Dá vontade de apagar tudo e fingir que eu não inventei essa porcaria ^_^
O Homem-Aranha
Este é um personagem que eu não pensei tanto na origem, e sim no modo de ele ser retratado. Acho que a origem poderia ser mantida quase igual, mudando-se alguns poucos detalhes (como explicar a existência de uma aranha radiativa numa universidade brasileira). Traduziríamos os nomes (Peter - Pedro, por exemplo), o faríamos morar em São Paulo, e trabalhar de fotógrafo freelance pra algum jornal como o Estadão. Eu jamais pensaria em outra pessoa pra trabalhar com esse personagem, que não fosse o Watson Portela. Logo no início da história ele já incluiria uma cena de sexo (disfarçado, é claro) com alguma universitária maconheira. Então Peter (Pedro) se levantaria e correria para a USP, atrasado como sempre. Ele ouviria The Pixies e Pink Floyd, todas as mulheres da série usariam mini-saias, e estariam sempre prontas a cairem de bunda ou darem um chute em alguém, de forma que mostrasse suas calcinhas (recurso utilizada por Portela até mesmo quando trabalhava na revista infantil "Herois da TV"), o uniforme do Homem-Aranha estaria sempre imundo e fedido (aliás, como quase tudo à sua volta), e as histórias sempre encerrariam com uma lição de moral do tipo "enfia isso aqui no **, seu mané!"
Tô louco pra comprar Paralelas 2 ;P
- Felipe Meyer
- Publicitário, redator e pseudo-quadrinhista. Ser humano do gênero masculino mais perto dos 30 que dos 20. Gestor de conteúdo do Jornal de Debates. Formado em Comunicação Social pela Faculdade Estácio de Sá de Santa Catarina. Casado, pai de uma linda coleção de revistas em quadrinhos, exilado de Florianópolis e tentando fazer a vida em São Paulo, na Auszuglândia.
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